Resenhas

Phoebe Bridgers – Punisher

No segundo disco da cantora americana, poderosas narrativas em primeira pessoa são embaladas por musicalidade primorosa

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Ano: 2020
Selo: Dead Oceans
# Faixas: 11
Estilos: Indie, Rock Alternativo
Duração: 40’
Produção: Tony Berg e Ethan Gruska

Talvez a “insatisfação” tenha sido uma força motora para Phoebe Bridgers trabalhar em seu Punisher. Há o descontentamento por, do alto de seus 25 anos, perceber que nada na vida permanece como está por muito tempo (ou volta a ser o que um dia foi). Ou até mesmo pelas limitações que as classificações impostas por termos como singer-songwriter ou por palavras que definem sua estética. São diversos os questionamentos que a californiana apresenta neste seu segundo álbum solo, seja nas letras ou na atitude.

As dez canções presentes no disco (após a faixa introdutória “DVD Menu”) revelam o talento que Phoebe tem desenvolvido para criar narrativas bastante descritivas e, ao mesmo tempo, dotadas de grande sentimentalismo. Isso se dá principalmente pelo eu-lírico, sempre em primeira pessoa, que comenta os acontecimentos, mesmo os passados, com seus verbos no presente – ela não só conta o que houve, como também relata como se sente. O ouvinte se sente ora maratonando episódios diferentes de uma mesma série, ora caindo no clichê do voyeurismo de espiar o diário de alguém.

Por conta disso, Punisher é um daqueles casos de obra cujas histórias podem ser bastante diferentes do que as que o ouvinte já viveu, mas há uma grande possibilidade de conexão sentimental justamente, porque o que ela canta é como absorveu esses acontecimentos. Além da já comentada sensação de decepção, o disco comenta, por exemplo, a vontade de se desprender da realidade (em “Halloween”), o medo de não dar conta do passar do tempo (“Garden Song”) e até o entendimento que uma história de amor estará sempre encharcada de imperfeições (“ICU”). São temas universais que ganham cenários bastante específicos, como Alemanha, Texas (ambas em “I Know the End”) e Japão (“Kyoto)”, sem perder um alto grau de identificação mesmo de quem nunca experimentou estar nestes lugares ou viver situações semelhantes.

Ao som de guitarras e levadas típicas da intersecção do Rock Alternativo, Indie e Folk (sem encanar com algum “ser ou não ser” algo ali no meio dos três), Phoebe canta suas memórias ao lado de convidados ilustres, como Lucy Dacus, Julien Baker (ambas suas companheiras no excelente Boygenius) e Conor Oberst (com quem lançou o disco Better Oblivion Community Center em 2019), entre outros nomes. A presença dessas outras vozes e instrumentos não só confere um som bem encorpado para suas composições, como também vai na contramão de nossas expectativas de como uma obra de cunho pessoal seria um trabalho mais solitário. São muitos os acompanhamentos, mas nada retira a aura intimista da obra.

Punisher entrega aquilo que Phoebe Bridgers vem desenvolvendo ao longo dos anos: uma musicalidade construída com primor para acompanhar suas narrativas em primeira pessoa. Ainda assim, o disco chega com cara de um trabalho movido pela intenção de não se conformar com expectativas. Até porque ela nos lembra a cada verso e acorde que grandes músicas costumam surgir de frustrações – e disso, como ela tem aprendido, a vida está cheia.

(Punisher em uma faixa: “ICU”)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.