Resenhas

Phoenix – Ti Amo

Grupo constrói uma ideia romantizada da Itália como refúgio para seu sexto álbum

Loading

Ano: 2017
Selo: Loyauté/Glassnote
# Faixas: 10
Estilos: Indie, Synthpop, Disco
Duração: 36:36
Nota: 3.5
Produção: Phoenix, Pierrick Devin

Com a chegada de 2017, a banda francesa Phoenix começa a se distanciar daquela que foi em 2009, transmutando sua personalidade na tentativa de acompanhar os desdobramentos que o Indie sofreu na última década. Wolfgang Amadeus Phoenix, o quarto álbum da banda, a fez preencher uma espaço da indústria musical que começava a ser deixado vago por gente como The Strokes ou Franz Ferdinand. O tempo passou, o Indie mudou, e nessa maré evolutiva Phoenix chega com Ti Amo, o sexto de sua discografia, um álbum que é uma resposta fantasiosa do grupo para tempos de uma realidade desconfortante.

Em Ti Amo, Phoenix imagina uma período de férias em uma Itália romantizada, no qual gente rica vive a tomar sorvete – ou melhor, pistacchio gelato – na beira da praia observando o pôr do sol cor-de-rosa. É mais ou menos aquele espírito do filme O Talentoso Ripley, no qual assistimos a pessoas bonitas passeando por paisagens paradisíacas, um refúgio idílico que ignora uma verdade violenta pairando pelo pano de fundo da narrativa. Phoenix, por ser uma banda francófona que canta em inglês, sempre exibiu uma estranheza cativante em suas letras que parecem não se encaixar direito. Aqui, arriscando um italiano que não existe, a aura de sonho ganha dimensões exponenciais.

Ti Amo, se comparado ao seus antecessores, baixa um pouco aquela energia juvenil do Indie, embora, é claro, não a abandone completamente. Aqui a banda assume sua descendência Disco francesa, o que nos faz pensar em alguns momentos equivalentes à música de seus conterrâneos Air ou Daft Punk. Há aqui também alguma ingenuidade eletrônica, tal qual Yellow Magic Orchestra e um relaxamento Afrobeat (mais escancarado na faixa Fleur de Lys que “sampleia” Fela Kuti).

É com uma esquisitice saudável, tropical e européia, que Ti Amo chega até nós. Para compô-lo, a banda improvisou excertos musicais por dois anos, retirando destes os momentos que julgou mais interessantes. O modus operandi da banda é mais ou menos a metáfora para o tema de seu álbum: retira das horas de “lixo” de conteúdo que produziu alguns poucos momentos de brilho, guardando-os nessa câmera anecóica artificial e, assim, construindo um refúgio imaginário para tempos de realidade massacrante.

(Ti Amo em uma música: Ti Amo)

Loading

ARTISTA: Phoenix
MARCADORES: Disco, Indie, Synthpop

Autor:

é músico e escreve sobre arte