Resenhas

Pink Siifu – GUMBO’!

Em terceiro disco solo , o rapper do Alabama faz homenagem ao Rap sulista e mostra que a região ainda tem muito a dizer

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Ano: 2021
Selo: Dynamite Hill
# Faixas: 18
Estilos: Southern Rap, Rap
Duração: 57'
Produção: DJ Harrison, The Alchemist, Pink Siifu, Ahwlee, Monte Booker, Lastnamedavid e outros

Seja o bondoso Dr. Emmett Brown (De Volta para o Futuro) ou o engenhosamente maligno Dr. Octopus (Homem-Aranha), cientistas malucos compartilham de características peculiares: a dedicação intensa por suas invenções e a busca constante por novas criações que possam expandir o catálogo. Nesse sentido, o rapper natural do Alabama Pink Siifu poderia ser incluído em posição notável em uma lista de “Top 10 cientistas loucos do Rap”.

GUMBO’! (2021) foi composto como se fosse parte da clássica série “Perfil”. Com 18 faixas, a estrutura do disco se assemelha a de um “greatest hits”, dividido em duas partes. Nos 57 minutos de audição, o artista passa pelo minimalismo e o Rap de colagens de ensley (2018), toca na sonoridade e energia punk de NEGRO (2020), no Lo-Fi do B. Cool Aid e samples de FlySiifu’s (2020), mas mergulha de vez (e desenvolve) o som de Rap sulista de KRYPTONITE (2018). Os ecos vão De UGK a Lil Wayne, de Outkast e toda a rapaziada da Dungeon Family a Erykah Badu — mas, no entanto, o repertório é construído de uma maneira que ainda soa bem própria de Siifu.

“I was raised by country n***** / I will get it by any means”, ele rima de maneira imponente em “Fuk U Mean / Hold Me Down”, que é liricamente uma das melhores faixas do projeto e parte essencial para compreender a carta de amor que o artista escreve para o sul em todo o disco. Um de seus triunfos é, ao entender que a sonoridade da região vai além de Atlanta, se atualizar. Em “Wayans Bros.” ou “Roscoe’”, Siifu emula uma cadência semelhante a rappers pop como Playboi Carti e Young Nudy, enquanto “Back’!” utiliza timbres de bateria contemporâneos para prover uma perspectiva refrescante em percussões e melodias característicos do Memphis Rap do Three Six Mafia. Destaque também para “Bussin’ Cold”, com sample que parece um passeio na nuvem voadora do Goku.

O novo trabalho de Pink Siifu não é dividido em Lado A e Lado B, mas soa como se fosse. A primeira metade do trabalho (faixa 1 a 9) se baseia em batidas eletrônicas e uma sensação geral de poder, enquanto a segunda metade (faixa 10 a 18) tem um peso espiritual em discurso e instrumentação, com a sensação geral de paz, e interseções muito interessantes entre os dois “lados”. Temos esses momentos na frenética “Big Ole”, com participação de BbyMutha e um beat que poderia inspirar um aquecimento de Funk, e “Voicemails Uptown”, sob produção precisa do popular Monte Booker e seus graves. Em “Doin Tew Much”, a cadência de Siifu demonstra domínio sobre os diversos subgêneros do influente guarda-chuva do Rap sulista. A versatilidade de Pink Siifu impressiona porque não é mero experimentalismo – ele realmente tem capacidades legítimas de explorar tais sonoridades.

Como um rapper que frequentemente se preocupa mais com movimentos e sensações do que necessariamente com a lírica, Siifu faz um ótimo trabalho em GUMBO’!. Por diversas vezes, me peguei balançando os ombros e a cabeça com as faixas mais bangers do disco — que foi capaz de transformar uma tediosa ida à papelaria em uma atividade dançante. Já as músicas mais intimistas (especialidade do artista) realmente são capazes de nos colocar em um estado de atenção plena –“Scurrrrd” é o ápice desse momento e o núcleo do disco. Com abertura de Big Rube (membro do Dungeon Family), entoando uma voz que soa como um orixá, a canção é uma posse cutz clássica de deixar Andre 3000 e Big Boi orgulhosos. Em GUMBO’!, Pink Siifu não só surpreende seus fãs assíduos como demonstra que o sul ainda tem muito a dizer.

(GUMBO’! em uma faixa: “Scurrrrd”)

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ARTISTA: Pink Siifu