A banda PLUMA é um belo exemplo de como, no caminho entre o pop e o indie, é possível estabelecer diálogos surpreendentes. E, mais do que aglutinar referências, a sonoridade do grupo, por meio de um afiado aspecto orgânico, a complexidade e a variedade a serviço da leveza.
Em meio a uma atmosfera indie, o grupo paulistano coloca o indie em contato com a mansuetude dos acordes do R&B, adiciona doses de neo soul – e, especialmente, entoa melodias pegajosas. Desde 2020, com o lançamento do EP Mais Do Que Eu Sei Falar, a banda se destaca com uma virtuose que sabe ser pop, impulsionada por letras extremamente confessionais. Com essa mistura azeitada, o quarteto atrai diferentes públicos – da geração mais nova à procura de uma banda indie a fãs “mais antigos” que buscam uma música brasileira que repagina referências do passado. Depois de soltar mais um EP, Revisitar (2021), a PLUMA uniu esforços para apresentar ao mundo seu primeiro disco de estúdio – uma espécie de, sim, estreia, mas comandada por uma banda que (como prova aqui) de iniciante não tem nada.
Não Leve A Mal carrega uma leveza que subitamente é invadida pelo experimentalismo, redundando em uma proposta de difícil categorização. São sonoridades nostálgicas, mas que chegam envelopadas por originalidade e invenção. A mistura sublime de autotune com cordas em “Quando Eu Tô Perto” anuncia as primeiras cores do disco, mas, com um tom groove-disco dos anos 2000, “Se Você Quiser” deixa o clima dançante e, ainda assim, sentimental. “Preguiça” é hipnótica, dando ênfase ao etéreo e a um canto que retoma algo de Bossa Nova e da MPB dos anos 1970. A faixa-título retoma o ritmo de baile, mas dessa vez mais manso e repleto de chamego. Composta com o Deekapz, “Sem Você” mescla o balanço do R&B com beats eletrônicos que dão um sabor chique extra. “Quanto Vai Ficar?” é confortável e precisa, com cada elemento – da harmonia aos timbres – a disposto em seu lugar.
Não Leve A Mal reúne o melhor do que já conhecíamos da PLUMA, mas abre espaço para novos humores e texturas. É um território sonoro explorado com cautela, mas confiança e habilidade – e o grande trunfo está nas alianças e sínteses: a melancolia e a redenção; o experimentalismo e o mel pop; a virtuose e a emoção de uma (simples e certeira) boa canção.
(Não Leve A Mal em uma faixa: “Quanto Vai Ficar?”)