Mesmo na música Indie, sempre aberta a novidades, o Auto Tune ainda é visto com maus olhos. Ainda que artistas como Sufjan Stevens e Bon Iver tenham lançado ótimos trabalhos com esse elemento no som, a prática de alterar sua voz ainda não parece muito atrativa para muita gente. Vindo nessa contra mão, Poliça traz o vocal de Channy Leaneagh processado por esses tão odiados e temidos aparelhos. Se você é um desses militantes contra o Auto Tune, esse disco pode mudar um pouco essa opinião.
Algo que está em moda, mas poucos conseguem fazer bem, é o hibridismo, a fusão de gêneros que até então estavam separados. Claro que com tanta oferta de música assim, nem tudo é bom. É ai que o Give You the Ghost, debut da banda, entra em cena. Misturando muito bem o R&B com batidas eletrônicas, e ainda um pouco de Rock, o resultado consegue ser surpreendente.
Pode parecer uma bagunça, mas não é. A dosagem perfeita de cada estilo consegue criar um clima amistoso e, às vezes, espectral na música do quarteto. Com batidas criadas pelos dois percussionistas, grooves de baixo amenos e, é claro, a harmonia criada pelos elementos eletrônicos, a música tem ao mesmo tempo uma cara orgânica e sintética. Dessa dualidade incrível nasce o encanto pelo som da banda.
Grande parte do bom resultado desse disco é exatamente passear por tantos terrenos. O baixo marcante de Form consegue unir a Salsa a um Post-Dubstep meio manco, sempre marcado pelas batidas intensas conduzidas pelas duas baterias. Ainda nesse experimentalismo, Dark Star conta com um saxofone para criar um clima mais orgânico, enquanto Violent Games ganha um clima pesado e intenso, no qual a voz processada de Leaneagh ganha reverberações e loops que a engrandecem e lhe dão uma vibe dark.
O mais importante nesse disco não é o uso do Auto Tune, mas como ele é usado. Assim como uma distorção de guitarra bem feita, o uso do Auto Tune pode engrandecer a música, que é o que esse álbum faz.