Resenhas

Porter Robinson – Worlds

Álbum surpreende ao trazer a delicadeza do Synth Pop aos ouvidos de quem só consumia EDM

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Ano: 2014
Selo: Astralwerks
# Faixas: 12
Estilos: Dream Pop, Synth Pop, 8-bit
Duração: 57"
Nota: 4.5
Produção: Porter Robinson
SoundCloud: https://soundcloud.com/porter-robinson/flicker

Lembro que aquele primeiro dia de Lollapalooza Brasil de 2013 era tudo novidade, inclusive a aposta dos produtores em trazer uma tenda Eletrônica a um público que não estava tão adaptado a um som que a gringa ouvia há tanto tempo. Pergunta se alguém teve tempo de adaptar? Claro que não. De longe, era possível perceber que o bumbo mais ensurdecedor vinha de um garoto que tocava ainda de dia. Seu set, ainda divulgando seu primeiro EP, vinha pra quem tinha fôlego pra vender, porque não era qualquer um que aguentava tantos drops seguidos e tanta pancadaria. Sem sombra de dúvidas, naquela sexta-feira, Porter Robinson foi quem mais me surpreendeu positivamente e quem mais se impôs ali no Jockey Club.

Essa postura chamou a atenção de Skrillex, que há bons anos trouxe o rapaz pro seu selo, inclusive, para lançar Spitfire e que vem de encontro com a chegada de seu primeiro LP agora. Worlds tem doze faixas de uma atitude corajosa de quem não tem medo de ousar. E pra quem só ouviu porrada dois anos atrás no Palco Perry, nunca imaginava que um dia ouviria, sob mesma autoria, um álbum de Dream Pop, cheios de synths e vocais doces como seu último lançamento. Aquele garoto que chutou a porta em 2011, inclusive no Electric Zoo, com Dubsteps sem frescura hoje, mergulhou no poço de conceito.

Já tinhamos algumas peças do quebra cabeça liberadas. Sad Machine, Lion Heart e Flicker já davam o gosto que já sentimos outrora por projetos que vão de M83 a Passion Pit. Mas Porter Robinson consegue mesclar todas essas influências puxando mais pro Eletrônico 8-bit, que lembra muito Madeon, tendo pitadas de Sigur Rós, sem deixar de trazer sua maior identidade: o bumbo agressivo. O final de Flicker já ensaia um sintetizador mais rasgado, porém é possível enxergar em Fellow Feeling uma estrutura mais parecida com o que Robinson estava acostumado a fazer. Mas são duas em doze, temos predominância do mais leve. E isso encanta. Worlds distoa diante de tanta competição entre quem tem o drop mais insano. Essa disputa “viril” aqui já não faz sentido. Seu trabalho é assumidamente doce e delicado e suas colaborações ajudam e muito na construção desse cenário. Breanne Duren (Owl City), Imaginary Cities, Sean Caskey (Last Dinosaurs) e até seu próprio vocal trouxe toda a parte humana de Worlds.

Digo humana porque estamos claramente falando de uma disputa de mundos aqui. Uma disputa física, uma disputa de egos, uma disputa interna: Em Lionhearted, o senso de disputa fica claro, a batalha travada e perdida em Sea of Voices e, é claro, em Goodbye To A World quando se dá adeus. O lirismo sempre beira a poesia e o apego, lembra bastante a trama de Wall-E, mas é válido lembrar bastante que Sad Machine é um dueto entre um humano e um robô, um diálogo romântico na beira de um cenário apocalíptico.

O que muitos enxergariam como retroagir, para outros serve como um avanço enorme na carreira do produtor. Enquanto no EDM, Porter Robinson é só mais um no palheiro da OWSLA e dos maiores festivais do mundo; Embarcando por aqui, ele se diferencia e traz para si holofotes e olhos que antes estavam desatentos. Deadmau5, no último Ultra Music Festival, já provou que muitos dançam a qualquer coisa ao remixar a música de Martin Garrix com Old MacDonald Had A Farm – de forma pejorativa – sem que ninguém de seu público percebesse ou criticasse sua atitude. Porter Robinson iniciou sua carreira no EDM, chegou onde chegou por conta da cultura EDM, possui todos seus fãs sob esse gênero. Hoje ele quer ser ouvido. Ao lançar Worlds, ele praticamente obriga toda uma cena que estaria fechada a escutar Dream Pop a se abrir ao gênero e perceber que é possível mesclar uma linha bass pesada com vocais e sintetizadores macios. Essa atitude ajudaria a criar senso crítico em um público que está completamente acostumado e ensinado a escutar e reproduzir mais do mesmo.

A obra não é original e nem foi feita com esse intuito. Como bem foi dito, Robinson bebeu de muitas fontes pra poder se inspirar até fechar seu trabalho. O que muitos tem que lembrar é que Worlds não é e nem foi feito no intuito de ser um álbum de EDM. Não deve ser consumido pensando em funcionar em grandes pistas como Spitfire funcionou. Aqui, a proposta foi outra, o desafio e as consequências são outros. Os vocaloids, durante o álbum, ficaram um pouco repetitivos, chegando a parecer uma banda europeia de Dream Pop experimental que não possui um vocalista e usou de samplers para divulgação de trabalho – isso é mais comum do que se pensa. Mas, o fato de ter saído da zona de conforto garante a Porter Robinson não só o título de versatibilidade, porém de ter sido aquele que deu um passo adiante do óbvio para fazer o que ninguém faz, de sair das cabines pra fazer um espetáculo com instrumentos, com banda, de crescer para outros rumos, outros palcos, outros fãs. E essa sede do novo é muito coerente com Worlds. É um álbum jovem, tão jovem que a faixa que abre seu trabalho mais parece aquela peça que você bota no som do carro quando viaja com seus amigos na adolescência.

Worlds é o resultado de três anos de estrada. Se difere do que vimos de Say my Name, em 2012, e em seu principal EP, já citado aqui anteriormente. Foram muitas gigs e, principalmente, muito tempo para que se percebesse o que é e onde Robinson quer chegar. Seu álbum nada mais é do que um convite a essa jornada, na qual seu ouvinte fica num limbo entre mundos, aqueles tão duplos quanto seu conflito sentimental e até profissional. Sua obra mostra alta competência de produção associada com uma versatilidade enorme de instrumentos, principalmente naquelas faixas como Natural Light, Sea of Voices e o início de Fellow Feeling. Porter Robinson aqui saiu do piloto automático pra ser um artista, pensar em um roteiro e passar uma mensagem. E diante disso tudo ele usou do título de sua última música para se despedir do EDM: “Time to say Good Bye*.

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Publicitário que não sabe o que consome mais: música, jornalismo ou Burger King