Resenhas

Preoccupations – Preoccupations

Banda canadense muda de nome e faz bom disco de sonoridades torturadas

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Ano: 2016
Selo: Jagjaguwar
# Faixas: 9
Estilos: Post Rock, Pós-Punk e Eletrônico
Duração: 37:21
Nota: 3.0
Produção: Graham Walsh

Preoccupations é um quarteto de Calgary, Canadá. Começou a carreira em 2012 com o nome de Viet Cong, mas, talvez devido à má aceitação dele ou algum outro motivo obscuro, decidiu mudar para o termo atual e mandar bala em sua carreira. Este segundo disco, homônimo, traz a banda mostrando-se ao mundo com novo nome mas com o mesmo som de antes, ou seja, uma boa mistura de Post Rock com Pós-Punk, embebida por efeitos eletrônicos aqui e ali, em maior ou menor número, com resultados noturnos, urbanos, sombrios e opressores.

Os sujeitos, Daniel Christiansen, Matthew Fiegel, Michael Wallace e Scott Munro, também decidiram batizar as nove canções do álbum com palavras únicas, compondo um painel que pretende ser minimalista e misterioso ao mesmo tempo, afirmando, de alguma forma natural, a sonoridade perturbadora da banda. Digo perturbadora no bom sentido, pois me peguei tentando entender onde as influências distintas dos canadenses se encontram e de onde elas vêm, mas fracassei retumbantemente, o que é bom. Dá a impressão que a musicalidade dos caras vem naturalmente do jeito que é. E há algumas boas faixas por aqui, com jeito de sucessinho da noite metropolitana daqui ou de lá, quem sabe. O melhor exemplo dessa desenvoltura popesca está em Degraded, que soa como um The Strokes do lado negro da Força, devidamente cooptado pelo submundo da grande cidade.

Outro bom exemplo de canção Pop está em Stimulation, que tem guitarras em desalinho e vocais que sugerem confusão mental por conta de aditivos químicos em larga escala. Mais parece uma trilha sonora para um ataque de ansiedade. Em geral, as canções do disco soam como pequenos e portáteis pesadelos noturnos. Mesmo a mais curta, Sense, com um minuto de duração, tem um ar de resignação de quem é capturado pelo predador e está refletindo sobre a vida enquanto o destino não se cumpre. Forbidden, que se emenda em seguida, tem um vocal enraivecido e distorcido, em meio a um instrumental caótico, erguido, segundo consta, apenas por duas guitarras, baixo, bateria e alguns efeitos.

Há um não-épico presente, a enorme Memory, que surge com mais de 11 minutos de duração, destoando intencionalmente do restante do álbum. Seu andamento soa mais como se fossem três canções emendadas em um só corpo à la Frankenstein, com relativo poder de alcance e um quociente razoável de surpresas ao longo de sua duração. Ela soa abduzida por alguma nave alienígena tocando o primeiro disco de Echo & The Bunnymen em sua playlist lá pelo terceiro minuto e embarca numa onda bem diferente a partir daí com guitarras harmoniosas e teclados sinfônicos, evocando algum ar e paisagem em campo aberto. Quando chegamos ao sétimo minuto, nova mudança de ares, evocando todo o passado Post Rock de guitarras mamúticas e indistintas, numa tempestade de microfonia cinzenta. No fim de tudo, Fever, a última canção do álbum, traz alguma ordem ao caos.

Este Preoccupation tem boas músicas, razoável conceito e, mais raro, uma banda jovem com pinta de que terá identidade musical própria em muito breve. Apesar desta encruzilhada Pós-Punk modernóide do século 21 fazer todo mundo soar muito parecido e próximo do que se fazia nos anos 1980, dá pra perceber que o quarteto canadense está acima da média. Aguardando o próximo disco.

(Preoccupations em uma música: Degraded)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.