Resenhas

Prince – HITNRUN Phase One

Músico retorna com álbum bacana e com convidados

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Ano: 2015
Selo: NPG
# Faixas: 11
Estilos: Rock, Funk, R&B
Duração: 37:51
Nota: 3.5
Produção: Prince e Joshua Weldon

Prince lançou dois álbuns no ano passado, interrompendo um hiato que já durava quatro anos e mostrou que, finalmente, parecia mais adaptado à pós-modernidade do século 21. Sua intensidade ao compor, seu futurismo Funk e sua musicalidade velha-nova-atemporal deram sinais de brilho em meados dos anos 00 (em trabalhos como Musicology, 3121 e Planet Earth, gravados entre 2004 e 2007), mas três discos constituem número muito magro para um gênio como o Anão Púrpura de Minneapolis. Em 2014, ele já parecia mais feliz e fluido, mas ainda devendo. Este novíssimo HITNRUN Phase One não é a chegada do Messias, mas cumpre o papel de manter as expectativas no mesmo nível, dos antecessores e configura Prince num papel híbrido de anfitrião, mestres de cerimônia e, ocasionalmente, centro das atenções. E isso, sei lá, viu? Não é o ideal quando tratamos de um sujeito tão genial.

HITNRUN Phase One surgiu há alguns dias como um trabalho exclusivo para ser ouvido na plataforma de streaming Tidal, idealizada por Jay-Z. Pouco depois, surgiu a notícia de que Prince soltaria as canções em formato de CD, o que acontece daqui a poucos dias. O público sai ganhando e tal visão parece acenar para uma abertura de mentes em relação à Internet, um tema com o qual o sujeito tem grande dificuldade para lidar. Dito isso, o feixe de onze canções entregues nesse novo trabalho é, digamos, nota 7. Há acertos, há derrapagens, há convidados mas há uma certeza, que talvez seja o grande trunfo de Prince em relação a todos os outros copiadores de sonoridades negras feitas dos anos 1980 para cá: ele tem conhecimento de causa neste terreno, aprendeu a fazer em contato com os gigantes, fez frente a Michael Jackson em 1984, em plena era Thriller, lançando filme (péssimo) com trilha (ótima) e colocando sua guitarra e musicalidade na frente de muito medalhão da época. A partir disso, quando se imaginava que desfrutaria dos louros do sucesso, mergulhou em álbuns experimentais sensacionais e submergiu gentilmente à medida que as décadas seguintes avançavam. O resto você já sabe.

Million $ Show abre o disco com uma introdução quase didática para neófitos. Há pequenos trechos de sucessos anteriores do sujeito, todos passando em questão de segundos, dando espaço para uma espécie de “tamborzão” elétrico, com boa melodia, num dueto com a cantora Judith Hill, mostrando que Prince vem disposto. A sequência com Shut This Down mistura mais batidas sintéticas com malemolência funky, com letra canto-falada e soterrada por efeitos. Ain’t About 2 Stop, a faixa seguinte, também tem a mesma ambiência mas a mesmice é quebrada com a melhor canção do disco, Like A Mack, totalmente devedora das glórias passadas do sujeito, sobretudo pela excelência da guitarra presente nela, nos lembrando que, além de tudo, Prince é um dos melhores guitarristas de todos os tempos. This Could B Us também deve à sonoridade baladeira oitentista do sujeito, enquanto X’s Face vem mais sintonizada com as pistas de dança de 2015. A dobradinha Fallinlove2nite e Hardrocklover aponta para o futuro, com reinterpretações de fraseados revistos e repensados de Disco Music e … uma variação guitarrística de melodias orientais, respectivamente, mostrando que, ainda bem, Prince segue excêntrico.

O encerramento do álbum, com a trinca Mr. Nelson (com vocais de Lianne La Havas), 1000 X’s And O’s e June vêm num clima mais lento e cinematográfico, mas cheias de detalhes ocultos e charme próprio. Talvez a presença do co-produtor Joshua Welton seja responsável pela visão de comodidade e sintonia com o nosso tempo que este disco traz. A aproximação com a eletrônica é visível e cai bem na musicalidade de Prince, promovendo o surgimento de uma liga musical original o bastante para nos fazer perguntar por que diabos ele não buscou essa atualização há mais tempo. Mesmo assim, confortável nas idas e vindas do tempo, nosso diminuto cantor/compositor/pensador/guitarrista segue em mares tranquilos e com tudo sob controle, não significando nunca que este domínio do jogo seja traduzido em monotonia. Pelo contrário.

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BOM PARA QUEM OUVE: Kimbra, Daft Punk, Lianne La Havas
ARTISTA: Prince
MARCADORES: Funk, R&B, Rock

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.