Lá se vão trinta anos desde que Yo! Bum Rush The Show, o álbum de estreia do coletivo novaiorquino Public Enemy, chegou até nós. Nothing Is Quick In The Desert, seu décimo quinto trabalho, lançado de surpresa no 4 de Julho (Dia da Independência dos EUA), é um trabalho que acena à gênese do grupo, na medida em que é marcado pelo teor político de suas letras e pela agressividade sonora do Rock e dos scratchs na produção.
Se Public Enemy olha com propriedade para na era de ouro do Hip Hop nos anos 80, não o faz sozinho, e acompanha um número de artistas que “renascem” no estilo – ou seja, que pretendem voltar a ser o que eram quando vieram ao mundo -, dada a conjuntura política da sociedade contemporânea, como A Tribe Called Quest e Snoop Dogg.
O nome Nothing Is Quick In The Desert é uma referência à indústria cultural, ou seja, alude a um clima árido no qual, para um olhar leigo, a sobrevivência é exceção à regra, mas no qual, segundo o grupo, subjaz um ecossistema rico de possibilidades. Se esta metáfora nasce com uma intenção bastante específica, não fica difícil, no entanto, imaginá-la como uma analogia possível para um olhar mais focado, que fala do Rap em si, ou para um mais abrangente, que reflete à crise social que os Estados Unidos se encontram em 2017: a prosperidade, em tais biomas, só pode vir com um olhar criativo que foge ao status quo.
Public Enemy, invocando a genealogia sólida que construiu nas últimas três décadas, endossa um coro de artistas negros que vêem na música a possibilidade de revelar um mundo necessário para o futuro.