Resenhas

Pullovers – Vida Vale a Pena?

Em retorno após 15 anos, banda paulistana se aprofunda, com otimismo e maturidade, em questões existenciais

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Ano: 2024
Selo: Sound Department
# Faixas: 10
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock
Duração: 34'
Produção: Habacuque Lima

Desde antes do play, não há como escapar de uma audição que se atente à pergunta já presente no nome Vida Vale a Pena?. As músicas do álbum, cada uma a seu modo, participam de uma argumentação iniciada na faixa de abertura, que sagazmente repete o título sem o ponto de interrogação. Foi a maneira que Pullovers encontrou de combater a pulsão de morte e nos lembrar de que aquilo que nos torna humanos é a consciência de nossa finitude.

“Anos, dias, quanto tempo você tem?”, questiona aquela primeira faixa, e continua: “Haveria outro plano no além?” – são perguntas que toda pessoa já indagou, mesmo as que conseguem reprimir suas dúvidas com certa eficácia. “Músculos, nervos e o mesmo carbono sem dono”, diz “Poeira de Estrela”, “sangue nas veias, e a cara feia que sorri que quando ela diz ‘sim’, até o fim, assim por pouco tempo”. É o existencialismo percebido e cantado no encontro da sensibilidade e da razão. Nada mais humano do que transformar essa dinâmica em arte.

A audição de Vida Vale a Pena? responde também, querendo ou não, uma pergunta que ronda seu lançamento: por que o Pullovers voltaria a gravar depois de 15  anos sem novidades? O questionamento é agravado pela falta de “novidade” na obra: toda sua sonoridade, da maneira como ela foi mixada às construções característica do rock alternativo, parece retornar aos primeiros anos da banda, ao invés de dialogar com os tantos avanços estéticos desses anos. “Mais do Mesmo” brinca com isso a partir de seu título, e em letras como “Sou o mesmo rato de anos atrás, praguejando ingrato, culpando meus pais”.

A seu favor, a banda conta com um repertório de vida muito maior e a maturidade que vem dele. “Fim” fala sem rodeios sobre o contato com a morte, enquanto a dobradinha “Xi” e “Pai” desenvolvem um olhar sobre a família próprio de quem pôde questionar com maior propriedade a construção de um lar (ainda que siga culpando os pais). A humildade em “Não Sei” é também resultado de muitas elaborações, com a perspectiva filosófica dessa ignorância tão própria da humanidade – nossas duas únicas certezas são a de que sabemos muito pouco, e também a da morte.

Vida Vale a Pena? oferece um abraço de quem também não entende lá tão bem o que fazer com o tempo que nos é dado, mas segue em frente. Essa é a mensagem central do disco, tanto que a banda optou por repetir a faixa “Não se Mate” para encerrá-lo. E se é para voltar a fazer música, que seja para se conectar em um grau tão íntimo e sensível com seus ouvintes. Escutá-lo neste comecinho de 2025 faz com que o Pullovers ecoe o mantra da vez: “A vida presta”.

(Vida Vale a Pena? em uma faixa: “Vida Vale a Pena”)

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ARTISTA: Pullovers

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.