Embora a banda americana Radiation City, em sua própria sinopse a respeito de seu terceiro álbum intitulado Synesthetica, procure ressaltar as diversas crises existenciais enfrentadas pela banda até a finalização do trabalho, dificilmente conseguiremos captar qualquer atmosfera de crise na audição do mesmo.
Por um lado, é fácil entender essa visão vinda de dentro. Radiation City nasce do flerte – uma afinidade tanto criativa quanto romântica – entre Elisabeth Ellison (vocais, teclados) e Cameron Spies (guitarras, vocais), ou seja, é um grupo fundado sobre dois pilares fundamentais que, por conta de qualquer desentendimento estrutural, correm o risco de ruir simultaneamente. De outro, o foco nas questões pessoais parece longe de ser significativo para a fruição de Synesthetica, um álbum tão tranquilo, ainda mais se levarmos em conta que esse é um trabalho que, como revela seu título, pretende mesclar diversos tipos de apreciação análogas à sua dimensão musical.
Acredito que o contexto geral no qual podemos inserir Synesthetica seja ao da doçura do Twee Pop, embora Radiation City pretenda explorar diversas possibilidades dentro deste âmbito. Assim, Synesthetica é elaborado como um prisma, que configura-se de variadas facetas cristalinas que pertencem a um mesmo fundamento. Ou seja, seu espírito é dominado pelo Indie vindo de Portland, ensolarado, suave e despretensioso (embora muito bem acabado), mas a banda ainda experimenta as possibilidades lânguidas de uma trilha sonora digna de um James Bond em Butter (a pérola deste trabalho), a nostalgia bem humorada à la Supertramp em Futures ou o clima dançante eletrônico de STRFKR em Sugar Broom, entre outras variantes sobre o mesmo tema.
Doce, animado, ensolarado e dinâmico, Synesthetica parece aproveitar-se de uma fórmula bastante conhecida do grupo para experimentar pequenas variantes de um território seguro, e, por isso mesmo, acertam na medida de seu Indie Pop.