Resenhas

Rae Morris – Someone Out There

Cantora ecompositora inglesa solta ótimo segundo álbum

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Ano: 2018
Selo: Atlantic
# Faixas: 11
Estilos: Pop Alternativo, Pop Eletrônico
Duração: 41:57
Nota: 4.0
Produção: Fryars, Rae Morris, My Riot, Ariel Rechtshaid, Fred

Quais as fronteiras entre Pop e Pop Alternativo hoje em dia? Esta é uma pergunta que parece sem sentido, mas ela é totalmente pertinente e/ou necessária. De uma maneira geral, poderíamos dizer que a diferença básica está na predileção do Pop mainstream de 2018 (e já de uma década, pelo menos) pela sonorizadade descendente do Hip Hop/Rap, com tonalidades eletrônicas advindas do encontro de vários produtores no estúdio. Por sua vez, o Pop Alternativo vem com qualquer sonoridade fora deste espectro. No caso de Rae Morris e de um monte de cantoras novas, surgidas nos últimos cinco anos, a coisa vai firme para o lado do Synthpop, de alguns timbres sintéticos que bandas como Coldplay adotaram com o tempo e outros detalhes aqui e ali, que fazem a diferença. Ou nem tanto. Este Someone Out There, segundo disco da moça, é um bom exemplo de como a música popular “Alternativa” está.

As aspas são devidas porque este álbum tem a chancela do poderoso selo Atlantic, pertencente à Warner Music, algo que ainda importa e faz diferença. Rae é uma mocinha de Blackpool, Inglaterra, que tem admiração por gente como Björk e entende que o futuro/presente da música está na pasteurização do que a islandesa fez no passado, misturando com tiques e taques mais modernos de produção. Não só isso: Rae canta, compõe e produz, algo que faz diferença. Sua voz é docemente aguda, um tiquinho estridente, na medida certa para a gente achar fofa/bonita. Sua musicalidade seria banal se ela não tivesse bom gosto para melodias e arranjos, apresentando um feixe de onze canções redondinhas o bastante para oferecer uma opção para gente que quer ouvir músicas simples, para cantar junto, sem, necessariamente, fazer twerking ou algo assim.

Algumas faixas são realmente legais: Do It, o segundo single do disco, tem uma batida de Pop latino diluída num oceano de timbres Sythpop facilitados pela produção, além de um vocal extremamente bem gravado, coisa muito fina. Reborn, o primeiro single, tem uma linha melódica com teclados que poderiam ser de uma abertura de videogame dos anos 2000, com entrada gradativa de outros sintetizadores e engenhocas sonoras, além de uma percussão robótica, criando um clima de expectativa e crescendo, algo que é bem feito e muito bem pensado. Lá pela metade dos quatro minutos da canção, já tivemos vários clímaxes, com Rae controlando sua voz e explodindo moderadamente nos refrãos. Atletico (The Only One) é outra belezinha saltitante de música, com vocais de apoio legais, mais e mais percussão multiétnica de teclado e fofuras que sobem e descem em velocidades diferentes.

Rae também tem manha para levar umas faixas em midtempo, caso de Wait For The Rain, que oscila entre a balada enxuta e a pop song comum, com bom trabalho de produção. Lower The Tone também é contemplativa, com um arranjo levemente afro-oriental bem bonitinho. O pop sintético embebe as estruturas de Physical Form e cellos tomam conta de Rose Garden, que soa totalmente bjorkica a partir do 1:40 minuto. O encerramento com Dancing With Caracter é o mais próximo que Rae chega de uma balada eletrônica oitentista, com melodia bem pensada e boas soluções de produção.

Com talento e empatia de sobra, Rae Morris tem um trabalho autoral e com personalidade suficiente para ser notada numa multidão crescente de artistas femininas jovens, que é despejada nos nossos fones de ouvido de tempos em tempos. Seu disco tem detalhes que justificam uma aposta em sua permanecência conosco por mais um bom tempo. Estamos esperando o próximo disco.

(Someone Out There em uma música: Do It)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.