Resenhas

Ravyn Lenae – HYPNOS

Disco de estreia da cantora de Chicago é enérgico e, mesmo com participações de peso, apresenta uma artista de personalidade marcante

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Ano: 2022
Selo: Atlantic Recording Corporation
# Faixas: 16
Estilos: R&B
Duração: 53'
Produção: Fousheé, IAMNOBODI, KAYTRANADA, Luke Titus, Monte Booker, Phoelix, Sango, Steve Lacy & Teo Halm

Antes mesmo de ler sua biografia e pesquisar sobre a artista, já suspeitava que HYPNOS era o primeiro álbum completo que Ravyn Lenae coloca no mundo. Há ali uma energia diferente, uma certa “sede” de trabalhar com música em um formato longo, que nem sempre se encontra nos discos. E o que a obra mostra é que a artista de Chicago é fluente tanto na arte de criar um trabalho de longa duração quanto no diálogo com um R&B atual e cheio de charme.

Ravyn é de uma novíssima geração de cantoras que nos presenteou nos últimos anos com nomes como Jorja Smith, H.E.R., Syd, Amber Mark e Nao – com quem a comparação é quase inevitável pelo timbre vocal –, ao seguir uma linhagem de muitas décadas atrás, da qual Aaliyah e Solange também fazem parte. Cada uma dessas mulheres respiraram as inspirações de grooves e batidas do que o gênero tem de melhor e trouxeram suas invenções, personalidades e histórias para essa conversa.

Aos 23 anos, a cantora traz letras tão empoderadas quanto sensíveis, e versos como “I won’t lie, I’m hoping I don’t lead you on/’Cause I don’t need a boyfriend” (em “3D”, com Smino) logo saltam à audição. Ela abandona sem dó o homem pego em mentiras (“Cameo”) e sabe também dissertar sobre as inseguranças na intimidade (“Inside Out”). Com tempo suficiente para desenvolver essa narrativa (o disco traz mais de 50 minutos ao longo de 16 faixas), HYPNOS cumpre a função de primeiro álbum também ao trazer a visão mais 360º que pode de quem Ravyn é.

E como qualquer jovem, ela aproveita da presença de outros para construir essa sua identidade. No álbum, encontramos duetos com Mereba (em “Where I’m From”), Foushe    é (“Mercury”) e Steve Lacy (“Skin Tight”), sendo que esses dois também estão em um time de produtores que conta com IAMNOBODI e KAYTRANADA. Muito bem acompanhada, mas é seu nome que brilha ao longo de todo repertório.

HYPNOS tem a seu favor também uma variedade interessante nas músicas, mesmo que todas elas estejam debaixo desse guarda-chuva do R&B contemporâneo. Há tempo para as influências caribenhas (“M.I.A.”), os toques psicodélicos oitentistas (“Deep in the World”) e até uma baladona de cunho minimalista (“Wish”), e o álbum parece soprar em um só fôlego da primeira à última faixa. É a tal da energia do primeiro disco, ou o prazer de trabalhar boas músicas compartilhado com o ouvinte.

(HYPNOS em uma faixa: “Skin Tight”)

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ARTISTA: Ravyn Lenae

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.