Resenhas

Remi Wolf – Big Ideas

Em seu segundo disco, artista americana combina múltiplas propostas sem perder o foco e a autenticidade

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Ano: 2024
Selo: Island Records/Universal
# Faixas: 13
Estilos: Indie, Pop, Funk
Duração: 43'
Produção: Carter Lang, Ethan Gruska, Kenny Beats, Knox Fortune, Leon Michels, Porches, Solomonophonic e Remi Wolf

Big Ideas é grandioso já a partir de seu título. E suas proporções comportam muito bem a personalidade de Remi Wolf, uma artista que segue trilhando um caminho musical muito mais interessante do que seu início no televisivo American Idol, aos 17 anos. Uma década depois, seu segundo álbum é mais uma prova do quanto sua identidade combina muitas cores e texturas para dar conta do alcance não apenas de sua voz, mas de sua criatividade.

Entre seu ótimo disco de estreia, Juno (2021), e esta novidade, Remi deu ao mundo uma compilação de remixes que reforçou categoricamente essa ambição. As produções são assinadas por gente do calibre de Kimbra, Panda Bear e Tune-Yards, além de Nile Rodgers, Beck e Hot Chip – só para citar alguns –, e mostraram como sua potência vocal se encaixa às mais diversas ambientações. O que ela propõe em Big Ideas é uma continuação não só do álbum anterior, mas também do conceito presente nessa coletânea de remixes.

Remi Wolf é uma espécie de hipérbole moderada. Suas músicas mais felizes têm ares de euforia, mas são sempre bem calculadas para caberem em nossos fones de ouvido. São muitas as camadas que compõem cada faixa. Há uma sonoridade de timbres rangentes que compete por nossa atenção com um vocal rasgado de uma diva pop (que escolheu seguir seu coração indie). Tudo isso para dizer: seu trabalho é sempre muita coisa.

Com alguma sujeira no som, Big Ideas se apoia em bases do funk e do rock mais psicodélico para aproveitar a versatilidade tão divertida da artista. “Cinderella”, que abre o disco, conquista o ouvinte facilmente com uma guitarrinha esperta e arranjos de metais. O que vem em seguida não decepciona, com destaque para as canções que prolongam esse mesmo clima de festa, como “Toro” e “Kangaroo”.

Em alguns momentos, ela flerta com um pop um pouco mais convencional, como em “Soup” e “Alone in Miami” – que, por melhores que sejam, esbarram aqui e ali em algum lugar comum do gênero. Não dá tempo de desanimar, porque o fôlego é recuperado com louvores na psicodelia de “Cherries & Cream”, no rockzinho grandioso de “Wave” e na balada minimalista “Motorcycle”. São três faixas bem diferentes entre si, mas que reforçam o quanto o álbum é capaz de atirar para vários lados sem perder o foco.

Isso porque a obra sabe se apoiar nessa personalidade encantadora da artista, sempre tão colorida, um pouco espalhafatosa e um tanto bem-humorada – o sorriso vem fácil em versos como “and I thought of you everytime I came” (em “When I thought of You”). As músicas parecem terem sido compostas em turnê, daí tantas menções a hotéis ao longo do disco, o que comunica uma autenticidade muito bem-vinda de uma artista que canta do que está vivendo no momento.

Talvez você se esqueça de faixas como “Frog Rock” ou “Pitiful”, mas elas nunca te incomodam quando você retorna à obra para revisitar esse universo tão particular que Remi Wolf consegue construir. E talvez isso seja o mais interessante na era do streaming, com esse oceano de música ao nosso dispor o tempo todo: a possibilidade de acesso pelos discos a personalidades muito interessantes. E isso Remi Wolf tem de sobra.

(Big Ideas em uma faixa: “Cinderella”)

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ARTISTA: Remi Wolf

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.