Resenhas

Repetentes 2008 – Bouderball

Criativo e único, disco é a introdução ao universo Eletrônico particular de Gabriel Guerra

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Ano: 2017
Selo: Future Times, 40%Foda/Maneiríssimo
# Faixas: 9
Estilos: Eletrônica, Jazz, Fusion, Funk
Duração: 30:00
Nota: 4.5
Produção: Gabriel Guerra

Ouvir Bouderball é como entender um filme de ficção a partir de sua verossimilhança com a realidade: indissociável à talentosa carreira musical de Gabriel Guerra, voz e guitarra da infelizmente extinta Dorgas, da vaporizada Séculos Apaixonados e da crítica Crusader de Deus, o trabalho é um prato cheio para quem está se aventurando aos poucos no amplo reino da música Eletrônica. Rápido e compreensível em um pista de dança, o disco é na verdade um passeio bem humorado pelo Funk e Boogie carioca de Lincoln Olivetti, mas contemporizado para se tornar uma viciante trilha sonora de videogame. Certeiro, é a escolha ideal para um fliperama hipoteticamente mudo e cheio de jogos de corrida,no qual cada faixa é um novo estágio (pista), em que cada quebra de ritmo é o atalho especial para chegar à vitória.

Acelerado, o “boulevard” não permite outra direção se não à linha de chegada. Olimpíadas Pizza Hut parece anteceder as luzes verdes que dão condição para que os corredores de Mario Kart comecem a dirigir – só progressão de elementos, aliás, parece ser ideal para uma partida do famoso jogo em um Nintendo 64. Outras faixas combinam a frenética sensação de querer dirigir dançando, como Unemployment Grand Prix (feita para uma sessão de Top Gear) ou Bruno Penna Funk, um dos melhores momentos do disco.

Tal sensação se repete e não deixa de conter o humor característico das bandas de Guerra, seja pelo título de suas faixas, como Nenê Gets Hilário (música mais calma e propícia para os menus de “continue” típicos de fliperama), ou simplesmente por um riff de baixo que leva o ouvinte para outro universo. André Gomes Tour de Force é um desses exemplo, mas passa além da semelhança inicial da abertura de Seinfeld para abrir um sorriso na face do ouvinte ao som da primeira melodia de um sintetizador cristalino.

A sensação de que estamos diante de uma banda completa no trabalho parece distanciá-lo da Eletrônica “usual”, já que o Groove e Funk brasileiros percebidos aqui são carregados de instrumentais distintos e melodias que dão essa sensação de amplitude, e o Jazz e seus diferentes espectros podem ser o elemento mais notável dentro de um trabalho que se propõe às pistas e não à introspecção. Nesse sentido, a verossimilhança citada vem à tona: Boulevard Internacional ou o desfecho de Avenida Maluca poderiam estar em um lado-B de Séculos Apaixonados e nada seria estranhado. No entanto, longe de ser auto referente, o projeto Repetentes 2008 é talvez a maneira mais eficiente de tornar Guerra uma figura de alcance internacional em formato solo.

Nomeado a partir de um ano conturbado na vida do músico carioca quando ele “repetiu de ano, perdeu seu pai e começou a usar drogas”, o projeto pode ser considerada a origem de tudo o que viria em seguida e também a sua essência. Distinto e particular dentro da Eletrônica, Bouderballl é a união de elementos desse universo particular e autêntico de Gabriel, mas que, curiosamente, transforma-se em uma acelerada acessibilidade típica dos videogames.

(Bouderball em uma música: Boulevard Internacional)

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.