Resenhas

Ricked Wicky – Swimmer to a Liquid Armchair

Projeto de Robert Pollard lança terceiro disco em um ano de atividade

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Ano: 2015
Selo: Guided By Voices
# Faixas: 12
Estilos: Lo-Fi, Rock Alternativo, Indie Rock
Duração: 30:31
Nota: 3.0
Produção: Robert Pollard

O novíssimo projeto de Robert Pollard mal completou um ano de vida e já chega à marca do terceiro álbum com este simpático Swimmer To A Liquid Armchair. É um número impressionante, mesmo para quem é considerado um dos mais prolíficos compositores americanos de todos os tempos. O sujeito simplesmente não para de compor, gravar e produzir álbuns, seja com sua banda mais conhecida, Guided By Voices, temporariamente fora de atividade, seja em uma relevante carreira solo. Ricked Wicky, pelo visto, ainda tem muito chão pela frente, dentro dessa lógica pollardiana de incidência de composições. Com os vocais e guitarras de Robert em primeiro plano, o grupo ainda conta com o multiinstrumentista Nick Mitchell e a boa cozinha de Kevin March e Todd Tobias, num quarteto que escapa belamente da estética noventista de Rock Alternativo americano – praia de Pollard – para abraçar vários gêneros musicais distintos, numa paleta de cores que pega desde o Progressivo ao Hard Rock. Mesmo assim, a abordagem lo-fi da coisa toda confere alguma tintura familiar aos fãs, algo que não vai tornar o projeto uma daquelas guinadas na carreira a serem evitadas no futuro.

O dilema lo-fi x high-fi é presente na carreira de Pollard desde o início dos anos 00, mas parece totalmente absorvido como elemento interessante nas composições dele, oferecendo ao ouvinte um nível extra de tensão e esquisitice do bem. Ricked Wicky vai em direção à tal sonoridade mais clássica do Rock setentista, valendo-se do bom senso melódico, marca registrada das composições de Robert, mas de uma forma mais livre e despretensiosa, dando, em alguns momentos, a impressão que o ouvinte está diante de algumas músicas cantadas na sala de estar, com amigos, não pelo tom da produção, mas pelo relaxamento dos arranjos e performance instrumental, algo como um “lo-fi espontâneo”, que só joga a favor do álbum e o identifica fortemente com seu criador.

Sendo assim, temos uma boa mistura de bandas clássicas dos anos 1970, no sentido Cheap Trick/Blue Oyster Cult do termo, condensando boas melodias e certa pegada guitarrística boa o suficiente para não se prender ao tempo, soando tanto como daquela época, como dos anos 1990, confundindo agradavelmente o ouvinte e mostrando que, por trás de todo medalhão noventista há uma sólida formação em Rock setentista, algo que eles são estão abraçando depois que passaram dos 50 anos.

Há um simpático aceno a The Who no single Poor Substitute, seja no próprio título – aludindo ao clássico da banda, Substitute – seja na própria sonoridade de bateria e guitarras, trazendo muito do clima do velho e bom quarteto britânico. What Are All Those Paint Men Diggin tem introdução lenta e climática, sofrendo mutações que a tornam um rockinho nervoso, cheio de boa bateria em looping, com certa tonalidade apocalíptica na voz de Pollard, soando como se ele estivesse na esquina da sua casa, com um cartaz de papelão dizendo “O Fim Está Próximo”, pendurado no pescoço. E tudo isso dura menos de três minutos. Em Crystal Titanic, as guitarras soam inegavelmente conectadas com timbres e dinâmica dos anos 1990, o que faz bandas como Yuck corarem um pouco no cantinho do salão. A bateria de Kevin March se destaca em meio ao instrumental bem cuidado.

Ricked Wickey é uma criatura que carrega o DNA de seu criador de forma incontestável, mas que se mostra capaz de sustentar identidade própria, abraçando estilos obscuros e ocultos até aqui na carreira de Robert Pollard, soando como se ele, após tanto tempo, se sentisse capaz de mostrar um velho baú de melodias ainda modernas, urgentes e adoravelmente desleixadas.

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BOM PARA QUEM OUVE: The Hold Steady, Yo La Tengo, Yuck
ARTISTA: Ricked Wicky

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.