Resenhas

RIMON – Children of the Night

Disco de estreia da cantora une o que o R&B contemporâneo tem de melhor a uma certeira e original sensibilidade pop

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Ano: 2024
Selo: ALLE$ RECORDINGS/EMPIRE
# Faixas: 12
Estilos: R&B
Duração: 42'
Produção: Alex Mendoza, Ash Leone, BLK ODYSSY, Bnnyhunna, DeCarlo, Elijah Fox, FNMLAS, Joey Ram, Joseph Luis Ramirez III, Mischief Boy, NAMI ONDAS PUBLISHING, Paco Del Rosso, Samuel Baptist e Thomas Mkrtchyan

Mais do que nunca, o R&B é dotado hoje de uma saudável universalidade – seja em Salvador, Londres ou Los Angeles, suas raízes estão fincadas da vanguarda ao mainstream. RIMON, nascida na Eritreia e criada na Holanda, possui um status de “cidadã do mundo” muito apropriado para a musicalidade que escolheu desenvolver nesses últimos seis anos, desde que começou a lançar singles e EPs. Ela tem a voz certa, a fluência nessa linguagem e um bom gosto presente nas escolhas de produção e em refrãos irresistíveis.

Seu primeiro álbum, Children of the Night, tem cara de um disco “de gênero”, e foi desenvolvido em uma residência que a artista e sua dezena de produtores/compositores fizeram para criar um trabalho que atenda o alto crivo do que o R&B tem de melhor em 2024. Melhor do que perceber a qualidade da obra é notar a intenção de originalidade que ronda suas músicas, mesmo feitas dentro de (e para) uma estrutura tão pop.

São muitos os pequenos sorrisos que vêm de uma audição atenta, a partir, por exemplo, do uso do tom e o ritmo do som da chamada telefônica para criar uma harmonia (em “Hotel Ruby”), ou da metalinguagem ao final de “All in My Mind”, que abre as cortinas dos bastidores e nos apresenta um momento descontraído no estúdio. São escolhas que faixas feitas para serem “hits” não teriam, só que fazem toda a diferença na experiência do álbum.

Há também uma vontade de explorar uma sonoridade orgânica que fica muito bem no R&B, mesmo com uma produção tão eletrônica quanto a de Children of the Night. “Back N Forth” explora sua sensualidade principalmente pela soma da voz de RIMON com o piano, que vem sob uma cama instrumental que lembra os sucessos dos anos 1990. A seguinte, “Make Money”, é ainda mais retrô, com certa inspiração psicodélica, e abraça a pegada de banda para trazer o momento mais acalorado de todo o disco – e o que talvez seja melhor finzinho de faixa de 2024.

Essa sequência de quatro músicas, se isolada, formaria também um potente EP. Na verdade, os três atos da obra são muito bem definidos com quatro faixas cada, e essa parte central, entre as músicas 5 e 8, acaba tendo um destaque muito grande durante a audição, de forma com que o último ato fique até um pouco apagado. A ótima “Nocturnal” faz o que pode para segurar nossa atenção, mas fica sempre a sensação de uma conclusão tímida em relação ao clímax.

O que marca a experiência, no entanto, é o trabalho minucioso de uma produção que honra o R&B que decide fazer – ou melhor, participar. Children of the Night ajuda a estabelecer o nome RIMON na cena contemporânea de um gênero que, assim como seu som, é facilmente degustado ao redor do globo, ainda mais quando tão bem feito assim.

(Children of the Night em uma faixa: “Make Money”)

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ARTISTA: RIMON

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.