Wild Guess é o álbum de estreia de Robber Robber, banda vinda dos nortes gelados de Burlington, a cidade mais populosa do estado de Vermont. Ela é formada por músicos já conhecidos na cena local, que reuniram suas forças para conceber esse debute cheio de acertos, em que o shoegaze desconstruído da banda evoca grandes nomes do estilo.
Existe uma sensação de impressionismo musical em Wild Guess. Partículas sonoras são levadas por um redemoinho. Distorção de guitarra, palhetadas insistentes, pratos de bateria presos num loop temporal, microfonias, uma voz submersa na mix – são todos elementos que atravessam o ouvinte. Com isso, a banda captura uma atmosfera e cria a sensação de habitarem um universo próprio.
Wild Guess traz um senso de vida real, que não pertence a algum micro-nicho de tendências virtuais e, ao contrário, faz imaginar a vida nas ruas enevoadas de Burlington, na fronteira norte dos Estados Unidos. Um cotidiano de bandas que se encontram para apresentações em casas de show duvidosas e que ensaiam de fato dentro das garagens umas das outras, que bebem cerveja juntos e, enfim, constroem um senso de comunidade a partir da ação dentro do mundo real. Wild Guess parece ser feito com a energia dos 20 anos, gasta em coisas que não são importantes, mas que são as únicas que valem a pena.
A capa do trabalho lembra algo vindo do universo do heavy metal e suas subvertentes, exibindo um dragão desenhado com grafite e uma tipografia ilegível, que evocam uma banda de death metal de colégio, mas ao mesmo tempo exibem um vigor de gente grande. Na sonoridade de Robber Robber, é possível detectar um apadrinhamento de Sonic Youth, uma originalidade de Japandroids e uma energia de No Age, entre muitos outros nomes possíveis. Já as letras, mergulham em “sentimentos de opressão diante dos constantes estimulantes e sobrecargas” do mundo moderno. As letras em forma de colagem consistem em pensamentos e imagens coletadas que entram e saem de uma variedade de ideias, e se encaixam na subjetividade de quem está ouvindo, traduzindo um assoberbamento que se descarrega na energia elétrica das faixas.
De acordo com uma sinopse no site da banda, o processo criativo de Robber Robber, é caótico, mas tudo é movido por pura curiosidade, traduzindo o período tumultuado da vida de alguém na faixa dos 20 anos no mundo de hoje, que está particularmente difícil de navegar. Essa declaração me fez lembrar de uma experiência pessoal: certa vez, vi um trabalho de arte, e que depois nunca mais encontrei, que me marcou muito, e consistia nas imagens de um artista que entrava dentro de furacões com uma câmera de vídeo. A coragem, a curiosidade e o caos eram a força motriz do trabalho. É essa a sensação que Wild Guess concretiza, para mim, na música.
(Wild Guess em uma faixa: “Sea or War”)
