Resenhas

Robert Pollard – Of Course You Are

Músico retorna com disco solo, mantendo velocidade de composição impressionante

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Ano: 2016
Selo: Fire Records
# Faixas: 10
Estilos: Lo-Fi, Rock Alternativo, Pop Alternativo
Duração: 32:24
Nota: 3.0
Produção: Nick Mitchell

Robert Pollard é uma espécie de operário padrão do Rock. Of Course You Are é o seu 25º álbum solo e tal número corresponde a apenas uma fração de seu trabalho na música. Robert tem mais um número semelhante à frente do bom grupo Guided By Voices, que está temporariamente na geladeira, e outras colaborações e participações, além da estreia com o grupo Ricked Wicky, resenhada há pouco tempo por este mesmo escriba de vocês. Se a praia de Pollard é o Rock Alternativo americano dos anos 1990, que serviu de terreno fértil para o surgimento de várias bandas legais desde então, não é de espantar que ele ofereça hoje algo que está bem próximo do que sempre fez, mas que o passar do tempo concedeu outro significado. Se gravar discos em meados dos anos 1990, em casa, com a deliberada intenção de soar displicente, hoje em dia, pouco ou nenhuma diferença tal atitude faz, uma vez que o gênero foi absorvido e já é previsto no espectro de possibilidades do Pop atual. Mesmo assim, Pollard segue dedicado e até ousa tornar sua sonoridade mais polida, algo que ele já vem empreendendo há algum tempo.

Na verdade, pouco importa a estética quando você já se tornou uma espécie de baluarte dessa largação sonora ao longo do tempo. E pouco importa se, em seu trabalho mais recente, com Ricked Wicky, você vem buscando alguma polidez com sua música, seus fãs já esperam essa saudável e significante indigência musical. Ao chamar Nicky Mitchell para produzir o projeto, que também participa da RW, Pollard carimba o selo deste “Rock Alternativo Lo-Fi Polido”, buscando nos riffs de guitarra e na objetividade das linhas de baixo/bateria, o seu quinhão na coisa toda. O toque do produtor aparece em detalhes tão pequenos de nós dois, como a introdução de cello e o arranjo de quarteto de cordas em Come And Listen, algo que, apesar de sofisiticado a princípio, também soa impressionantemente Lo-Fi. Além disso, a voz de Pollard é a mesma de sempre, ou seja, de um menino cantante, com uma rouquidão saudável e juventude por toda parte.

Uma audição detalhada sentencia sem muita crise: há bons momentos por todo o disco e ele se mostra bem legal à medida que prestamos mais atenção aos detalhes. Está tudo lá, abrindo o caminho com a roqueira e riffante My Daughter Yes She Knows, passando por guitarras crocantes e derivadas de algum ensaio de The Who em Long Live Instant Pandemonium, abrindo caminho para a levada tradicional e atemporal em midtempo de Little Pigs e Collision Daycare; as guitarrinhas dobradas em Promo Brunette estão presentes em quase tudo que há de legal neste tal de Rock desde os anos 1990 pra cá; a linha de baixo sinuosa e harmonizante com guitarras em I Can Ilustrate; os timbres amadores e a sutileza de órgãos em The Hand That Hold You; o clima totalmente sessentista, com direito a cordas aqui e ali em That’s The Way You Gave It To Me; a Psicodelia tardia de Contemporary Man (He’s Our Age), que lembrou levemente algum trabalho de The Beach Boys nos anos 1970, daqueles em que um Brian Wilson sequelado e não recuperado participou com mais intensidade; a doideira espacial de miniaturas de Star Wars em Losing It e o fecho com a faixa-título, um Folk urbano e contemplativo, com boa utilização dos timbres e do silêncio como contraponto natural aos sons, mas que se transforma em canção enguitarrada bonitinha.

Por mais paradoxal que seja, há quem pense que a produção constante de Robert Pollard possa comprometer a qualidade de seus trabalhos, mas, a julgar pelo que tem feito nos últimos anos, o sujeito está numa maré de altíssima inspiração, parindo canções diretas, bem feitas, bem tocadas, totalmente de acordo com sua tradição. Além disso, a parceria com Nicky concede espaço para que Robert expanda horizontes e pareça sempre o mesmo, no melhor sentido que isso possa ter. Bom disco, que vai fazer mais efeito com aqueles velhos diabos egressos das audições de CDs alugados desses artistas, numa época, ao mesmo tempo, muito distante e muito perto de hoje. Se você é um filho deste milênio, venha conhecer.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.