Resenhas

Rodrigo Amarante – Cavalo

Conhecida figura enigmática de nossa música nos apresenta seu primeiro disco solo melancólico, introspectivo e surpreendentemente sensível

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Ano: 2013
Selo: SLAP
# Faixas: 11
Estilos: MPB, Folk, Indie
Duração: 37:39
Nota: 4.5
Itunes: http://clk.tradedoubler.com/click?p=214843&a=2184158&url=https%3A%2F%2Fitunes.apple.com%2Fbr%2Falbum%2Fcavalo%2Fid709647937

Confesso: Não gosto de exposição. Não sei falar ao vento sobre mim, evito subir no palco e só a ideia de publicar uma confissão como essa já me dá um grande desconforto. Por causa disso, quando um artista faz um trabalho assumidamente pessoal, minha mente gira em torno de uma só pergunta: “Por quê?”. Não entendo Rodrigo Amarante, mas suas decisões começam a fazer mais sentido depois de algumas audições de Cavalo, seu primeiro trabalho.

A afirmação que o álbum é seu primeiro trabalho sozinho já é curiosa por si só, já que ele sempre conseguiu tanto destaque em seus mais diversos projetos (Los Hermanos, Orquestra Imperial, Little Joy) a ponto de parecer que ele já foi solo diversas vezes, ou que já vimos o suficiente dele. Cavalo vem para nos dar uma outra faceta desta figura que, agora mais do que nunca, se consolida como enigmática à medida que mais se revela.

Isso tem a ver com a pluralidade do disco e com o “elemento surpresa” presente por toda sua extensão. Labiríntico, o álbum oferece surpresas a cada vez que uma música termina e outra começa. Quem esperava por faixas mais ao estilo de Maná irá certamente se surpreender com a leveza das melodias e ritmos das outras dez. Porém, a maior surpresa acaba sendo a beleza das composições somadas à interpretação do músico.

Músicas como The Ribbon e Fall Asleep são de uma melancolia nostálgica que pouco se assemelha à roda de samba contemporânea de Maná e, mesmo ouvidas repetidas vezes, sempre parecem ter uma beleza inesperada, como o sorriso que você sempre vê em quem você gosta e ainda te faz suspirar. Assim como o sorriso, talvez leve um certo tempo para nos acostumarmos ao quanto gostamos dessas músicas.

Não que seja surpreendente que Amarante saiba fazer músicas bonitas. Não mesmo, ele é o cara que fez Sentimental, O Velho e o Moço e Último Romance, por exemplo. Mas isso de ter uma compilação só sua, sem interferência de outros artistas, um verdadeiro extrato de sua criatividade, lhe deu liberdade para compor com ainda maior inspiração (e os seis anos necessários para o disco sair do forno dão pistas do capricho com que ele foi feito).

E voltamos à questão da pessoalidade. Imagino que quem não faz música não sabe o que é ter um disco seu. Aqui do meu canto, fico pensando que deve ser como publicar um livro que escrevi sozinho. É uma oportunidade que não pode ser desperdiçada, assim como uma bela desculpa terapêutica para olhar pra si mesmo e expurgar seus fantasmas.

Amarante, proclamadamente, fez isso. Conforme ele divulgou, Cavalo é sua própria incursão em direção ao passado, àquilo que o fez musicalmente (e fora disso) ser quem ele é hoje também como músico brasileiro (tanto é que a sequência inicial traz respectivamente uma faixa em português, uma em inglês e a última em francês).

O mais interessante de tudo é a ideia de que uma volta à suas raízes o impeliu em uma direção não muito diferente daquela que Marcelo Camelo, seu companheiro de Los Hermanos, seguiu em sua carreira sem a banda – músicas introspectivas e com uma beleza muito própria de nossa MPB – a acalentadora Irene é a maior prova disso.

E é nessa vitrine de si mesmo que Rodrigo Amarante constrói os primeiros degraus de uma já tão bem estruturada carreira solo, provando não necessariamente ser alguma espécie de “geniozinho” musical (como os fãs gostam de falar e os haters, de criticar), mas um mestre na arte de nos cativar com sua poesia e o característico vocal arrastado.

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.