Resenhas

Ronald Bruner Jr. – Triumph

Baterista e cantor, irmão de Thundercat, estreia com álbum superlativo

Loading

Ano: 2017
Selo: World Galaxy
# Faixas: 11
Estilos: Jazz, R&B, Jazz Fusion
Duração: 64:03
Nota: 4.5
Produção: Ronald Bruner Jr

Aceite um conselho do seu amigo crítico musical: aperte os cintos para um dos grandes álbuns deste 2017. Não é exagero, não é precipitação, é apenas ótima música. Roger Bruner, Jr é irmão do nosso amigo Thundercat, baterista virtuoso de Jazz e R&B, figurinha fácil em bandas de apoio a luminares da música negra estadunidense mais clássica, como Chaka Khan ou Stanley Jordan. Gente que milita através do tempo e precisa do proverbial “sangue novo” em suas bandas de apoio, verdadeiras usinas de competência e aprendizado para músicos jovens. Foi neste ambiente que Ronald se criou, mas não deixou de desenvolver seus gostos e manter sua sintonia com a música atual, mais ainda, não deixou de estudar e buscar a excelência em seu instrumento, algo que ele mostra ter atingido com folgas neste Triumph, nome apropriadíssimo para seu álbum de estreia.

De acordo com as formas mais recentes do Jazz, a musicalidade que surge neste álbum está longe de viver à base de intermináveis solos e demonstrações de habilidade. Claro, elas estão presentes como traço definidor do estilo, mas não há preponderância delas em nenhum momento, impedindo o tédio após certo tempo de audição. Além disso, o pedigree do álbum está longe de ser puro, para nossa felicidade. Há traços de DNA de vários estilos, do R&B mais moderninho ao Jazz Rock revitalizado, passando pelo filtro do Rap, que confirma sua força como maior força de expressão das juventudes globais. Como se não bastasse tudo isso, há, sim, a certeza de que os músicos envolvidos aqui são verdadeiros monstrengos em termos técnicos, tornando várias passagens possíveis e agradáveis. Resumindo, é um disco de valores instrumentais que não vai encher o saco da galera mais nova e vai agradar aos eventuais puristas de plantão.

O irmão Thundercat não podia ficar de fora, pelo contrário. Ele participa de todas as canções, tocando vários instrumentos, mas empresa sua voz na colossal Take The Time, um rolo compressor de groove e acertos de arranjo, com duelos entre guitarra e bateria pela supremacia da faixa. Mas destacar apenas uma canção no álbum é um grande equívoco. Há grandes momentos por toda parte, para todos os gostos. Há o Funk moderninho e criativo de Doesn’t Matter, com uma visão econômica de arranjo, ênfase numa bateria eletrônica datada e andamento de teclado, tremenda prova de criatividade e visão de jogo por parte de um baterista virtuoso. Geome Deome, com participação do gigante do Jazz (já falecido) George Duke, vai por caminhos mais convencionais e se aventura na interseção na qual o velho Jazz Fusion se criou, atualizando tudo.

Mais acerto na malemolência ensolarada e malandra de Whenever, que seria pura Los Angeles, 1978, se Ronald não tivesse a exata noção de que o AOR é um estilo a ser atualizado. Ele faz isso – assim como o irmão também – e se sai muito bem, parecendo uma cruza de Stevie Wonder e George Benson. Mais desses espírito permeia a linda Open The Gate, que bebe da mesma fonte, mas surge mais complexa e experimental, seja na bateria complexa, seja na duração que ultrapassa os 10 minutos. One Night é maravilha de vocais dobrados e sentimento Soul, enquanto Sensation investe sobre o terreno do chacundum de guitarras e da percussão/bateria nervosa. O groove volta em mais uma canção de arranjo eletrônico, To You/For You, boa, dançante e pronta para tocar nos rádios, caso isso ainda fosse parâmetro para boa música. Chick’s Web encerra os trabalhos com quase nove minutos de passarela para Ronald desfilar sua visão de jogo.

Triumph é uma cacetada bem dada. Diverso, bem pensado, bem arranjado, moderno e com noção do tempo transcorrido, é um álbum que dá gosto de ouvir. Precisamos mapear o DNA desta família. Ouça ontem.

(Triumph em uma música: Whenever)

Loading

BOM PARA QUEM OUVE: Prince, Thundercat, Flying Lotus
MARCADORES: Jazz, Jazz Fusion, Ouça, R&B

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.