Resenhas

Rose City Band – Summerlong

Projeto liderado por Ripley Johnson abdica de experimentalismos mirabolantes e navega suavemente por tradições do Folk e do Country

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Ano: 2020
Selo: Thrill Jockey
# Faixas: 10
Estilos: Country, Folk, Psicodélico
Duração: 40'
Produção: Ripley Johnson

Em tempos de constante e intenso experimentalismo musical, aqueles que conseguem se destacar mesmo trazendo construções mais típicas e, digamos, “enquadradas” em gêneros musicais estão munidos de uma habilidade ímpar. Ripley Johnson é certamente um exemplo disso.

Johnson é um compositor, músico e produtor que traz quantidades concentradas de Country e Folk em seu sangue. Conhecido por integrar o grupo Wooden Shjips (mais caprichado na psicodelia) e o projeto Moon Duo (focado em flertes com a música eletrônica), Ripley musicaliza um retorno às raízes – aquele sentimento de se contar e ouvir histórias, aquela sensação de country road songs, que ilustram longas viagens pelo interior dos Estados Unidos tocando em pubs locais (um sonho que Ripley conserva até hoje, como comentado em entrevista). Entretanto, como fica um sentimento de liberdade quando estamos vivendo uma pandemia que retira este aspecto fundante do Country e do Folk? Para Ripley, o isolamento é apenas um mero detalhe, pois as jornadas se sustentam por meio das canções.

Sob o nome de Rose City Band, Ripley se entrega totalmente à viagem. Não no sentido lisérgico-brisa, mas na possibilidade de atingir diferentes lugares e sensações pela construção dos arranjos e sonoridades. Summerlong é uma grande ode ao verão, ao tempo propício para sair e fazer descobertas. Um verão que, apesar de impregnado pela reclusão, transpira cada gota de calor nas composições de Ripley. O disco é construído como uma grande estrada e segue um trajeto definido, com começo, meio e fim. E, nesse sentido, o compositor está mais preocupado em trazer uma experiência imersiva, na qual o disco inteiro traz a possibilidade de vivenciar um grande verão, do que segmentar o trajeto em pequenos episódios.

Para isso, Summerlong está bem acompanhado de referências primordiais do Folk. Ripley não nega a tradição americana de nomes como Johnny Cash, Neil Young e Merle Haggard e ainda injeta um aspecto quase Rock ‘n Roll, mais ligeiro e ágil aos moldes de Rolling Stones e Van Morrison. E, por fim, há a psicodelia alojada entre os acordes de guitarra e pedal steel, tímida, porém presente. O grande barato do disco é que Ripley não é um experimentador mirabolante que procura em cada elemento uma abordagem inusitada e única para narrar sua trajetória. Ao invés disso, ele traz, por meio do típico e tradicional, uma nova maneira de contar sua liberdade.

A viagem começa com “One Lonely”, uma animada composição que pinta os primeiros cenários desse trajeto, ao mesmo tempo que os contempla com uma psicodelia subliminar. Continuando com andamento ágil, “Real Long Gone” reabastece o tanque com guitarras dançantes, órgãos como base e uma bateria pulsante. “Floating Out”, por sua vez, desacelera o ritmo, seguindo um andamento mais tranquilo e reflexivo, como um pôr-do-sol. “Renno Shuffle” é a canção que representa a influência mais “roqueira” na sonoridade de Ripley, com riffs precisos e de peso constante. A viagem se encerra com “Wildflowers”, em pico de psicodelia bem caprichado nos reverbs, como se tivéssemos chegado ao topo da montanha, com a sensação satisfatória de trajeto terminado.

Summerlong nos toca pela sinceridade e honestidade de Ripley e na forma como a atmosfera solar é expressa em suas palavras e seus acordes. Rose City Band traz uma nova-velha forma de retomar e experimentar aquela liberdade pré-pandemia. Uma viagem longa feita por meio do tradicional Folk e um momento de estabilidade precioso em tempos tão conturbados.

(Summerlong em uma faixa: “Wildflowers”)

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique