Resenhas

Run The Jewels – Run The Jewels 2

Segundo disco traz produção mais elaborada e acessível sem perder o espírito do duo

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Ano: 2014
Selo: Mass Appeal, Sony RED
# Faixas: 11
Estilos: Hip Hop
Duração: 39:56
Nota: 3.5
Produção: El-P, Little Shalimar, Wilder Zoby, Boots

No ano passado, o lançamento da mixtape gratuita de estreia do duo Run The Jewels colocava Killer Mike e El-P lado a lado na tarefa de conquistar o respeito da cena Hip Hop, logo de cara. Obviamente, ambos os MCs já haviam lançado discos anteriormente, mas o trabalho era um convite de boas-vindas imponente, nervoso e belicioso. Seus componentes explosivos, no entanto, não afastavam o público, criando uma música que era ao mesmo tempo agressiva e acessível, motivo pelo qual Run The Jewels esteve entre diversas listas de melhores discos de 2013.

Entretanto, sem espaço para respirar, o duo resolveu fazer um álbum propriamente com mais recursos, tempo e participações igualmente especiais. Se em 2013 tivemos a chance de ouvir uma parceria com Big Boi (Outkast), agora podemos nos deparar com Zach de la Rocha (Rage Against The Machine) em Close Your Eyes (And Count to Fuck). A faixa que sampleia a voz icônica do MC é enervante com um loop constante que aguça os instintos do ouvinte, sensação pertinente e constante ao longo de toda obra. All Due Respect tem Travis Barker (Blink-182) comandando a bateria em um momento claramente inspirado no finado e raivoso Death Grips, com um Hip Hop industrial cheio de efeitos e reminiscências do Punk Rock.

Se você gostou do seu trabalho anterior, deve seguir o mesmo espiríto em Run The Jewels 2 com a clara impressão de que as coisas agora parecem mais bem estruturadas e ambiciosas. El-P comanda uma produção que traz mais melodia, textura e elementos em cada uma das faixas, como All My Life com barulhos de tiro retirados do eterno jogo de Nintendo 64 Goldeneye 007. Ao mesmo tempo, deixa espaço para o mesmo poder explorar seu lado de MC, inferior ao flow sulista de Killer Mike, mas que, combinados – um sotaque americano e outro mais espânico -, fazem a mistura ser sempre interessante. Love Again (Akinyele Back) com Gangasta Boo tem um baixo que fica zumbindo no ouvido enquanto cada um dos participantes pode ter espaço para mostrar o melhor de seu estilo em um dos grandes momentos do disco.

Os instintos podem continuar agressivos, como a trinca de abertura Jeopardy, Oh My Darling Don’t Cry e Blockbuster Night Part 1 que realçam versos obscenos, raivosos e sempre enaltecidos por um instrumental que contribui para o clima – seja no grave constante, no aspecto Noise das composições ou no ritmo incansável das rimas, trazendo o melhor dos mundos para quem curte rappers mais rápidos que melódicos. No entanto, o segundo trabalho está igualmente mais acessível; passamos da fase em que a sua música servia para um nicho somente para alcançar vôos mais altos nas baladas Early, com Boots, ou na viciante Crown com Diane Coffee.

Ao mesmo tempo, o espírito nunca está perdido, seja nos momentos agressivos ou nos mais melódicos. O aspecto violento do duo, que procura sempre conquistar o ouvinte ao tirá-lo de uma zona de conforto que este não sabia que gostava, dá coesão a Run the Jewels 2 e atrai novos olhares. Com melhor produção e acessibilidade, mas sem perder o espírito de seu elogiado trabalho anterior, os MCs Killer Mike e El-P parecem conquistar o que buscavam no primeiro momento: Respeito. Em um mercado que perdeu Death Grips, um dos grandes influenciadores, RTJ caminha para criar a mesma sensação de perigo sem ser tão excludente, fazendo o espírito Punk continuar a viver dentro do Hip Hop.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.