Love Letter for Fire, o nome do novo disco colaborativo entre Sam Beam (Iron & Wine) e Jesca Hoop, traz em si uma dupla possibilidade de interpretação. Uma “carta de amor para o fogo” pode significar tanto uma homenagem íntima para as instâncias mais ardentes do amor, como a paixão ou o sexo, quanto pode significar uma declaração romântica destinada a desaparecer, uma carta que, findo o relacionamento, encontra sua extinção nas cinzas.
Ambas as interpretações, que não estão necessariamente desconectadas, parecem coroar o projeto em questão com justiça. Por um lado, esta é uma parceria “feita para acabar”, ou seja, carrega algo de efêmero em si, é, por assim dizer, “apenas” um álbum de duetos feito como um projeto paralelo, prescindível de uma banda nova específica para tal fim, embora, evidentemente, pretenda e deva continuar existindo por tanto tempo quanto for possível e necessário.
Por outro lado, a tonalidade romântica de Love Letter For Fire parece encontrar o meio do caminho ideal entre as carreiras de ambos os artistas. Um Folk puxado para o Country, com temperos de uma composição Singer Songwriter bastante Americana, exalta um clima caloroso e, ao mesmo tempo, doce e sereno.
A parceria entre Beam e Hoop deu-se graças ao lançamento da releitura faixa Hauting My Dress, no álbum de 2014 da cantora intitulado Undress, e acabou por vingar como uma experiência de sucesso, frutificando no disco completo que temos agora. O formato de faixas cantadas em duetos, bastante inspirado em ícones do Country como Kenny Rogers e Dolly Parton, ou também George Jones e Tammy Wynette, acaba por priorizar os diálogos românticos nas letras, e, assim, por criar um relacionamento entre os músicos, ao invés de assegurar uma composição solipsista e introvertida, tão comum em algumas vertentes do Folk.
Love Letter For Fire, portanto, mantém um ritmo estável por todo álbum, com exceção talvez da esotérica – e faixa mais interessante deste trabalho – Chalk It Up to Chi. Em geral, é preenchido por uma uniformidade que exalta certo calor interiorano, nostálgico, e de uma romanticidade bucólica bastante agradável.
