Resenhas

Sampha – Process

Músico extrai beleza da assimetria em seu álbum de estreia

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Ano: 2017
Selo: Young Turks
# Faixas: 10
Estilos: Pop Alternativo, R&B, Neo Soul
Duração: 40:17
Nota: 4.5
Produção: Sampha, Rodaidh McDonald

Desde a antiguidade clássica, somos ensinados a ver simetria como um sinal de beleza. Um rosto bonito, para o nosso cérebro condicionado, é aquele no qual os elementos se equilibram. A capa do primeiro álbum completo do artista britânico Sampha Sisay aparenta ser uma foto comum, mas causa uma sensação estranha que apenas um olhar mais atento é capaz de distinguir: na verdade, este retrato é apenas metade de um rosto espelhado. Em Process, Sampha prova que não apenas pode haver beleza na assimetria, ela é, mesmo que discreta, parte constituinte daquilo que reconhecemos como belo.

Mesmo contando com uma presença marcante na estreia auto-intitulada de SBTRKT ainda em 2011, foi no ano passado que Sampha viu sua carreira florescer. Entre alguns dos melhores exemplares de 2016, Sisay, como coadjuvante, imprimiu sua marca. The Life of Pablo, de Kanye West, A Seat At the Table, de Solange, e Endless de Frank Ocean contam com a participação do artista. Não por acaso, estes todos configuram uma realidade que condiz com a de Process: todos são albuns Pop, marcados pela música negra, e que escapam à produções convencionais, exibindo melodias sinuosas e dissonantes.

O título Process pode se referir ao modo com que Sisay processa sua dor em formato musical, uma saudação ao percurso em detrimento do resultado. Com uma voz segura, que se destaca pela sua discrição, Sampha canta levemente e de modo delicadamente crispado. Process é, nesse sentido, também a beleza que se sobressai às etapas difíceis da vida. Após a morte de seu pai em decorrência de um câncer em 1998, a etapa final de produção do trabalho é, afinal, marcada pela morte de sua mãe, vítima da mesma doença.

Autêntico, suave e dolorido: Sampha começa oficialmente sua carreira solo com um excelente exemplar, para finalmente marcar seu lugar entre os grandes intérpretes protagonistas do Pop Alternativo de 2017.

(Process em uma música: Blood on Me)

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BOM PARA QUEM OUVE: Solange, Frank Ocean, James Blake
ARTISTA: Sampha

Autor:

é músico e escreve sobre arte