Resenhas

Selton – Manifesto Tropicale

Terceiro disco da banda traz reflexão sobre as diversas inserções da música brasileira em outros gêneros

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Ano: 2017
Selo: Universal Music
# Faixas: 10
Estilos: Indie Pop,
Duração: 33:00
Nota: 3.5
Produção: Tomasso Colliva

O grupo ítalo-brasileiro Selton decidiu muito cedo que sua obra seria o resultado de um estudo minucioso do Pop. Com melodias ensolaradas e passeios saudáveis entre o Indie e Electro Pop, a banda mostrou em dois discos de estúdio que dominava as estruturas da canção popular, sendo seu último trabalho uma ode às rádios dos anos 1940/50, explorando uma infinidade de timbres vintage. Mesmo morando na Itália, os meninos sempre tentaram trazer para sua sonoridade um aspecto brasileiro, seja nos acordes de bossa ou nas letras cômicas e sinceras em português. Mas, de uma forma ou outra, parecia que estas referências ficavam à mercê de Indie Pop internacional, tornando-a mais um adereço do que propriamente uma influência. Porém, um ano após Loreto Paradiso, Selton retornou com um trabalho que parece reconhecer uma maior influência de sua pátria mãe, mas de uma forma bastante diferente.

Manifesto Tropicale não tem o seu título à toa. A sonoridade brasilidade ganha um destaque relativamente maior do que nos dois últimos trabalhos. A influência da Bossa Nova, as melodias vocais setentistas da MPB e até mesmo algumas percussões mais gingadas trazem àquele Indie Pop de outrora, maior desenvoltura e certamente inaugura um novo campo de possibilidades para a banda. Mas, como um manifesto vem para contestar e/ou propor novas, o presente também tem em sua motivação um caráter transformador. Selton não está preocupado em fazer um disco purista que reafirme o valor da música brasileira a partir de expor suas características sem qualquer intervenção. Na verdade, a basda mostra nestas nove faixas possibilidades de misturas cada vez mais cativantes e bem pensadas, como se o objetivo do disco fosse mostrar o quão diversa nossa música pode ser, a partir do momento que ela se encaixa muito bem nos moldes do Indie Pop.

Terraferma abre o disco com uma melodia acompanhada de um violão delicado, que logo dá lugar a um refrão que abusa do talento vocal dos meninos, tornando a composição perfeita para começar este manifesto. Luna In Riviera simboliza bem as misturas que o grupo propõe neste disco, com batidas de Electro Pop e vocais que lembram alguns nomes da música brasileira dos anos 80. Cuoricinici explora percussões dançantes mas as readapta de forma a suavizá-la sem perder o peso, como uma espécie de baile silencioso. Stella Rosa faz pequenas distorções nos acordes de Bossa Nova, seja com os sintetizadores espaciais ou com as guitarras tortas que estilizam a música. Já Tupi Or Not Tupi pega o lema do movimento Pau Brasil, da década de 20, e faz uma releitura contemporânea com uma batida eletrônica constante e fazendo aquelas famosas misturas de idiomas em uma mesma letra. Por fim, Avoar põe um pé no dedilhado caipira modificando-o com intervenções sonoras que fazem o trabalho terminar como um sonho.

O terceiro disco de estúdio de Selton é o que mais parece entender a pluralidade da música brasileira. Acima de qualquer purismo, o grupo remodela, destrói e ressignifica nossa música misturando com elementos Pop bastante ecléticos. Pode parecer mais um disco que tenta trazer respiros do Indie Pop de volta à tona, mas ele se consolida em bases muito mais bem estudadas e precisas. Um disco tão dançantes quanto contestador.

(Manifesto Tropicale em uma faixa: Luna In Riviera)

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BOM PARA QUEM OUVE: Flyte, Dente, The Rapture
ARTISTA: Selton
MARCADORES: Indie Pop

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique