Resenhas

Selton – Saudade

O quarteto gaúcho impressiona neste disco pela bem estruturada mistura de elementos rítmicos, líricos e estilísticos

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Ano: 2013
Selo: Ghost Records
# Faixas: 10
Estilos: Indie Rock, Rock Brasileiro, Electro Rock
Duração: 27:10
Nota: 4.0
Produção: Tomasso Colliva e Selton
SoundCloud: https://soundcloud.com/selton/qui-nem-gil-saudade-feat-arto?in=selton/sets/selton-saudade-1

Alguns países são bem egoístas mesmo. Muitos artistas brasileiros acabam sendo divulgados intensamente neles, enquanto nós temos que esperar um bom período de tempo até que o artista seja lançado devidamente aqui. Um exemplo desta particularidade é o Selton, divulgado na Itália e com lançamento de discos e shows agendados apenas neste mês. Entretanto, a espera às vezes pode compensar. E muito. É o caso do novo disco da banda: Saudade.

Não se engane pelo fato da divulgação ter sido intensa na Itália, os gaúchos propõe um som que traduz muito o orgulho tupiniquim do quarteto. Ainda que haja uma considerável quantidade de faixas em Italiano e até em Inglês, o Português marca presença com lirismo inconfundível em De Volta para o Futuro e doses de versos humorados que mantém uma certa poesia embutida como na divertida Ghost Song (Eu amava ela, Ela me Amava/Tudo bem, Vai se fuder).

As referências brasileiras não se limitam apenas ao aspecto lírico das músicas. Há uma animada homenagem ao Rei do Baião, Luíz Gonzaga, na faixa-cover Qui nem giló (Saudade) na qual vemos os aconchegantes versos (Ai quem me dera voltar, para os braços do meu xodó/Saudade assim faz doer, amarga que nem giló) serem cantados com intervalos vocais sertanejos, ao mesmo tempo que escutamos uma faixa instrumental que ora lembra um Indie Rock inglês, ora uma marchinha de um carnaval nordestino. Essa faixa conta com a participação do multi-instrumentista Arto Lindsay.

A produção do disco foi encabeçada por Tommaso Colliva, que já trabalhou com artistas como Muse e Franz Ferdinand. Desta última banda, podemos observar que aspecto Indie Rock do disco é muito bem trabalhado e há uma porrada de referências que é possível notar entre suas faixas. Entre as principais temos algumas guitarrinhas no melhor estilo Foals assim que os primeiros segundos de Across the Sea descorrem. A bateria às vezes é substituída por uma drum machine e acaba lembrando algumas músicas dos primeiros dois discos do Vampire Weekend, como podemos notar na música Vado Via.

Outro elemento que é possível perceber nas composições da banda é a incrível habilidade que eles tem de criar refrões chiclete. Se você escutar a última faixa Eu nasci no meio de um monte de gente e os vocais reverberados não grudarem em sua cabeça, considere ir a um otorrinolaringologista fazer uma audiometria.

O que dá para notar nesse disco do Selton é que a banda ganha respeito por conseguir fazer uma mistura coesa de muitos elementos. Mas muitos mesmo: letras em diversos idiomas (que as vezes se sobrepõem), diferentes rítmos dialogando entre-si harmoniosamente, harmonias vocais predominantes em diversos estilos musicais e muito bem executadas, um lirismo marcante do português e muitos outros fatores. Eles se destacam bastante nesse “monte de gente”.

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ARTISTA: Selton
MARCADORES: Ouça, Resenha

Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique