O Rap sempre foi conhecido como uma poesia em movimento, um relato social de tudo o que seu enunciador (rapper) vê no mundo ao seu redor. Enquanto tais versos foram ganhando musicalidade pela própria forma como eram expostas através de ganchos e rimas, foi somente com uma mistura entre DJs e rappers que o conhecemos como Hip Hop nasceu. Logo, o ritmo e fala caminharam conjuntamente em diversos momentos da história e em alguns casos, elementos misturados ganharam mais ênfase do que outros.
Neste ano, resenhamos o disco de milo, jovem artista que prefere muito mais utilizar a sua fala como um fluxo de pensamento, muitas vezes abstrato, para que as suas batidas ganhem forma ao fundo mesmo não sendo a sua grande preocupação. David Cohn, rapper de Chicago tem uma carreira extensa em pouco mais de doze anos de carreira, muito maior que o terceiro número de seu novo disco, Kenny Dennis III.
Serengeti criou o alter ego do título de seu novo trabalho para contar as suas histórias de forma bem humorada e que consiga lidar com seu cotidiano levemente. No entanto, o que percebemos é que se a trinca de abertura e as faixas No Beginner, Off/On e Shidoshi fossem seguidas, as quais são muito mais Hip Hop do que a prosa rítmica, o resultado seria muito mais interessante. Não que o disco como um todo seja decepcionante mas o contínuo fluxo de histórias, auxiliados por batidas e loops interessantes repetitivos, acabam atrapalhando um pouco a audição do ouvinte – contos sobre a sua volta a Chicago são vistos em Win Big e Perfecto no entanto, o tom cômico e bem pensado nas faixas não consegue se sustentar por muito tempo.
O ouvinte, principalmente aquele que não fala inglês como a sua língua nativa, dificilmente vai se envolver diante da proposta criada e mesmo aquele que compreende a língua materna do músico passa um pouco batido pelas construções de Kenny Dennis III. Lamentos, vozes perdidas, frases jogadas parecem muito interessantes no papel, mas, ao longo de 19 faixas, acabam fazendo quem se propõe a ouvir um disco de Hip Hop a pulá-lo logo. Para aqueles que não estão acostumado ao estilo, atrai pelas batidas fáceis e por parecer um narração de fundo a uma trilha interessante, no entanto a falta de evolução acaba eventualmente dispersando este ouvinte também. Alguns momentos se salvam no meio, como Tickled Pink e Tanya T, mas talvez seja tarde para que você queira chegar ao fim de quase cinquenta minutos de rotações no seu player.
