Resenhas

Shabazz Palaces – Lese Majesty

Duo continua com sua visão vanguardista do Hip Hop ao criar a obra mais psicodélica e experimental de 2014 no gênero

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Ano: 2014
Selo: Sub Pop Records
# Faixas: 18
Estilos: Hip Hop
Duração: 45:00
Nota: 4.0
Produção: Shabazz Palaces

Shabazz Palaces nunca procurou ter uma abordagem ortodoxa do seu ofício. O Hip Hop criado no excelente Black Up (2011), seu primeiro disco após dois EPs, era oposto ao que podia ser visto no gênero naquele momento – saíam as batidas óbvias e o simples esquema de versos e refrões para que toda a criação fosse orgânica e fluída como as ideías do MC Ishmael Butler e o produtor Tendai Maraire. Independente do meio em que se inseria e complexo, o trabalho viria abrir as portas para o experimentalismo ser mostrado a um público mais amplo, no entanto poucos artistas nesses últimos três anos conseguem se assemelhar a este duo. Lese Majesty é mais um exercício perfeito de ambos, fugindo de uma atmosfera caótica para absorver ao mesmo tempo psicodelia e ficção científica ao longo de 18 faixas.

A quantidade de músicas pode até chocar em um primeiro momento, mas a fluidez entre cada uma e sua linearidade – o disco é dividido em sete atos que são quase separados a cada três faixas – fazem da experiência uma das melhores viagens sonoras do ano, voltada para quem quer fugir do usual no Hip Hop e que gosta de flertar com o Eletrônico. Logo no começo, a tríade Dawn in Luxor, Forerunner Foray e They Come In Gold funciona como um ritual de passagem espacial entre o seu último trabalho e agora. Sim, espacial, pois as texturas, nuances e atmosferas propostas não são nem de longe terráqueas mas semelhantes a uma viagem pelos cantos mais inóspitos do universo. As batidas sempre minimalistas e com versos que não procuram seguir uma estrutura além da forma prosaica de Ishmael fazem desta sequência um partida sem volta no Hip Hop.

O disco é sobretudo um trabalho de Tendai que se preocupa com a fluidez entre cada momento e a verossimelhança da obra. Logo, pequenas faixas com uma média de dois minutos começam a explorar outras vertentes sem perder a essência experimental de ambos. Solemn Swears abusa dos sintetizadores, enquanto Harem Aria cria a batida de verdade levando as duas a formarem juntas uma faixa coesa. A sensação que temos é a de uma mixtape feita milimetricamente para que nunca ocorra o choque devido a variação sonora, mas sim a percepção de que as coisas fazem sentido. Noetic Noiromantics é viciante com seus backing vocals, enquanto Soundview parece um faixa perdida de Flying Lotus. Se perdemos o caos de sua obra antetior, ganhamos pluralidade e ainda mais experimentalismo.

Ishmael seria a música mais usual de todo o disco mas mesmo assim vista como complexa e heterodoxa aos puritas, enquanto … down 155th in the MCM Snorkel traz finalmente um sub-bass de chacoalhar o chão de uma festa à tona. Em alguns casos, existe até um flerte com a dança ao invés da visão chapada que temos do trabalho, como em #CAKE, no entanto, mesmo quando isso ocorre, a condução é feita a partir de batidas quebradas e anárquicas – uma forma leve e mais introspectiva do Punk de Death Grips, por exemplo.

Motion Sickness é o melhor momento de todo o disco, sua Psicodelia auxiliada por sons de botões são o início da volta de uma viagem lisérgica iniciada logo nos primeiros acordes do álbum. Sem antes deixar a experiência ainda mais interessante, os vocais femininos à la Erykah Badu em New Black Wave e a sugestiva e derradeira Sonic MythMap for the Trip Back fazem deste último capítulo o melhor de todos. Esteja preparado para fugir de seu conforto no Hip Hop, pois Lese Majesty segue o ímpeto vanguardista do duo, o levando mais distante do solo terrestre e demonstra que o espaço é o limite para estas mentes criativas.

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BOM PARA QUEM OUVE: Cities Aviv, Jeremiah Jae, Flying Lotus
MARCADORES: Hip Hop, Ouça

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.