Resenhas

!!! : Shake the Shudder

Banda novaiorquina apresenta ótimo álbum

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Ano: 2017
Selo: Warp
# Faixas: 12
Estilos: Dance Music, Eletrônica, Rock Alternativo
Duração: 49:25
Nota: 4.0
Produção: Patrick Ford

Um dos meus lamentos musicais – tenho muitos – é a perda de fôlego das chamadas bandas Dance Punk, surgidas na virada do milênio. Elas apareceram junto com a chegada de The Strokes, oferecendo uma mistura bem legal de Rock Alternativo daquela época, com linhas de baixo chupinhadas da Disco Music e uma atitude novidadeira que fazia muito bem no combalido cenário musical da mudança de pele da música Pop de então. O maior nome dessa galera é The Rapture, que surgiu pimpão com dois bons discos na primeira metade dos anos 2000 e perdeu visibilidade influência nos anos seguintes. Os novaiorquinos !!! são desse mesmo momento musical e conseguiram manter-se vivos e operantes ao longo deste momento temporal, sabendo levar suas canções sacolejantes e híbridas adiante com personalidade e talento.

Aparentemente novinho e garotão, o grupo iniciou suas atividades em 1996, contabilizando, portanto, 21 anos de carreira. Este bom Shake The Shudder é o sétimo álbum lançado pelos sujeitos, apontando para uma manutenção na estrutura “orgânica” da música que fazem, a saber, marcada pelo equilíbrio entre essa liga Dance Rock Punk e o uso da Eletrônica, de modo que esta última surja como um instrumento em meio ao todo e não um caminho estético a ser seguido. Isso acrescenta mais personalidade às faixas e surge um grupo de músicos bastante hábeis em administrar as referências sem cair nas armadilhas fáceis do que se entende por “R&B de Laptop”, que parece ser o queridinho para assumir protagonismo nas pistas de dança próximas do mainstream. Para fazer o que faz, !!! se vale de um velho recurso: músicos que tocam bem seus instrumentos e contribuem para a confecção de arranjos legais e que valorizam as boas composições oferecidas. Não falha.

Se há uma boa diferença entre este e os outros trabalhos da banda é uma opção pelo lado mais dançante de sua música, deixando a tal “atitude Rock” meio de lado. Um bom exemplo desse protagonismo está na ótima faixa Dancing Is The Best Revenge, totalmente apoiada num solitário slap de baixo que vai sendo engolfado por sutis guitarras, teclados e uma bateria hipnótica, enquanto tudo caminha para um refrão explosivo que lembra algo de DNA próximo de Michael Jackson em Bad. Há detalhes de sobra na faixa para justificar repetidas audições em busca de tesouros perdidos e ocultos. A citação dos anos 1980 continua na faixa seguinte, NRGQ, mais eletrônica, porém com um belo trabalho de guitarras e a participação de vocal feminino, cortesia da cantora Lea Lea, que aparece em outras gravações do álbum.

Outro momento dourado é a ótima Throw Yourself In The River, com levada dançante de gente grande e um clima nitidamente herdado de algumas inflexões vocais e guitarreiras do Pós-Punk mais clássico. No mesmo caminho, ora mais climáticas, ora mais suarentas, vêm outras duas belas faixas: Things Get Hard, que chega a lembrar algo dos trabalhos de Prince e R Rated Pictures, a canção que encerra o disco, com outra levada sensacional e um ótimo solo de trombone, algo que não se vê/ouve hoje em dia.

Shake The Shudder é bastante legal e oferece um combustível bem interessante para pistas de dança pouco ortodoxas e para gente que adora mapear as levadas dançantes da música Pop. Há várias por aqui muito bem feitas e que credenciam o grupo para o respeito total dos mais exigentes fãs de música. Ouça e parta para o abraço.

(Shake The Shudder em uma música: Dancing Is The Best Revenge)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.