Resenhas

Shamir – Be the Yee, Here Comes the Haw

Apesar de rápido e simples, novo disco do jovem artista chega carregado de emoção e flerta com o Country

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Ano: 2019
Selo: Independente
# Faixas: 8
Estilos: Dream Pop, Alternativo
Duração: 25'
Produção: Shamir Bailey

A música norte-americana passa por um período de fascinação pelo Country. No time do Pop mainstream, artistas como Lady Gaga, Miley Cyrus ou Justin Timberlake exibem uma tentativa romântica de resgatar valores mais conservadores de sua música popular, como pátria, família e tradição. A música que descende do Indie e do Hip Hop, por sua vez, faz uma aproximação mais irônica do gênero. Nomes como Mac Demarco, Orville Peck ou Lil Nas X fazem referência a esse imaginário, apropriando-se de sua linguagem para dar um tempero humorístico à sua música. 

Seguindo essa onda, agora o jovem Shamir ele mesmo que já transionou do Pop Eletrônico de Ratchet para o Indie mais enguitarrado de Resolution ao longo dos últimos anos lança Be the Yee, Here Comes the Haw. No entanto, aqui a influência da música caipira está em nível mais subatômico, ditando mais uma maneira de compor canções do que aparecendo na superfície do trabalho. 

Em entrevista para a PAPER, Shamir declarou: “Eu sempre disse, desde o começo de minha carreira, que todas as minhas músicas são, a princípio, canções de Country. A maioria delas são apenas eu na varanda com meu violão”. Esse espírito de compor canções com o violão, traduzindo-as da maneira mais simples e enxuta possível na finalização do trabalho é a característica mais marcante de Be the Yee, Here Comes the Haw. Gravadas em poucas camadas, algumas músicas possuem apenas dois ou três instrumentos além da voz.

Ainda assim, no que diz respeito ao resultado final, um ouvido despretensioso diria que essas canções estão mais próximas do Punk, do Gótico ou até mesmo do Dream Pop dos anos 2010 – ouça “Hurt”, próxima do universo de bandas como Wild Beasts por exemplo. Guitarras distorcidas puxam o clima desse álbum para baixo, e o peso sustenta a voz aguda de Shamir que canta com angústia sobre as dores de ser um jovem adulto. 

“Seus olhos dizem que não nos resta muito tempo/ Nós começamos a conversar e você se senta languidamente” Shamir canta em “Strong”. A intimidade, a memória e a confissão sempre fizeram parte do o estilo de composição do artista. Todavia, aqui esse universo está despido ao essencial, as canções são sustentadas mais pelo sentimento do artista do que por qualquer outra coisa: são poucos elementos, mas todos aparentemente no volume máximo, sugerindo uma espécie de inflamação emocional.

A produção favorece a expressão de Shamir, explosiva, que dá o seu recado em apenas oito músicas de mais ou menos três minutos cada. O álbum acontece rápido, mas é uma torrente que marca presença na discografia do músico. Desde que abandonou o selo XL Recordings, Shamir não passa uma oportunidade de experimentar com sua música. Be the Yee, Here Comes the Haw é um evento que enriquece muito o seu currículo.

(Be the Yee, Here Comes the Haw em uma música: “Strong”)

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ARTISTA: Shamir

Autor:

é músico e escreve sobre arte