É curioso como a música eletrônica pode ser considerada o grande reflexo de artistas na atualidade. Longe de grandes intervencionistas, o gênero consegue transitar por elementos muito pessoais e trazer significado à singelos acordes emulados em um computador. Shigeto transporta um espírito minimalista a sua obra e consegue, mesmo em sua confusão, transformar todas as suas cores em pequenas obras cheias de textura.
Em seu novo álbum, as pequenas transições feitas a partir de instrumentos contínuos como as percussões que sobem e descem em Ringleader , claramente inspiradas na música latina, passam calmamente a sensação de tempo sendo passado em euforia. A festividade divide-se com a instrospecção em No Better Time Than Now, um bom acompanhamento para quando a música é um impulso para o cérebro deixar-se levar em devaneios, pensamentos.
Dentro de cada canção, a espontaneidade é chave para que as texturas sobrepostas façam sentido e que alguns momentos se mostrem ainda mais incríveis. Detroit Part 1, por exemplo, começa como uma grande trilha sonora de um jogo de exploração e consegue ao seu final pegar o minimalismo, adicionar um pouco de groove e transformar-se em uma bela demonstração de sensibilidade do artista.
Outra faixa que surpreendente positivamente é Miss U, provavelmente o grande momento a ser ouvido aqui. Seu início aberto mostra a distância entre os dois seres que sentem saudades. Antes de se tornar um drama, alguns instrumentos são colocados para diminuir esse espaço “vazio” até que as teclas de Shigeto começam a tocar em seu teclado de uma forma que o sentimento passado está longe da melancolia: é a saudade boa. Dificilmente você não irá se perder nessa música,deixando a cabeça seguir para onde ela simplesmente quiser. Se a mesma fosse escutada no rádio, sem informação de seu título, provavelmente passaria o mesmo sentimento de encontro após um grande desencontro.
Infelizmente, algumas músicas patinam em uma certa obviedade que fazem com que a nota aqui não seja tão alta quanto um [Four Tet]. Perfect Crime e Olivia são grandes quebra-cabeças, e se arrastam em sua confusão. Safe in Here retorna o clima percussionista e encaixaria perfeitamente em um filme temático do Brasil mas com um clima um pouco mais noturno.
A faixa título foge bastante de todo o espírito criado na obra, e mostra-se talvez o momento mais intenso visto até então. Iniciado no eletrônico, acaba evoluindo para uma bateria natural enquanto um sintetizador cria um riff que simplesmente deixa o ouvinte sem ar. No Better Time Than Now talvez não seja coeso em todas as faixas e não pode ser considerado um álbum com uma linha tênue entre cada elemento. No entanto, vemos aqui belos exemplos de sensibilidade, inspiração e grandes momentos que fazem com que os seus ouvidos acabem procurando o disco em um momento introspecção, longe das pessoas mesmo que dentro de uma multidão.