Resenhas

SILVA – Júpiter

Ainda que acima da média, álbum não faz justiça ao talento do músico

Loading

Ano: 2015
Selo: slap
# Faixas: 11
Estilos: Pop Eletrônico, Indie Pop, Pop
Duração: 36'
Nota: 3.0

“Cansei de ser eu mesmo/Me deixa ser você”, cantava SILVA lá em seu primeiro EP (2011) – na faixa Cansei, presente também em Claridão (2012), seu álbum de estreia -, e esses seus versos parecem ter se concretizado agora que o capixaba lança Júpiter.

O novo disco assume uma nova direção para sua obra ao trazer algumas facetas de Lúcio Souza que haviam aparecido apenas aqui e ali no passado, como o tom menos carregado de elementos que dava as caras em Okinawa (de Vista pro Mar), ou o vocal assumidamente Pop que ouvimos recentemente no single Noite (que não está neste álbum) – e essas duas características são os fundamentos sobre os quais dez das onze faixas novas estão construídas. Se como coadjuvantes elas eram mudanças de clima bem-vindas, pecam em não fazer justiça ao talento de SILVA em papéis principais no disco.

Seu potencial como produtor vinha em grande parte pelo bom gosto com o qual ele orquestrava os elementos eletrônicos com o uso Pop de instrumentos que ele domina em nível graduado (literalmente), como o violino e os teclados/piano. As composições feitas durante viagens e turnês que compõem Júpiter (o que explica a ausência de muitos elementos, antes trabalhados sem pressa em estúdio ou home studio) mostram o quanto ele continua mestre na escolha das batidas, porém há o estranhamento da impressão de que ou falta alguma coisa, ou que algo não está tão certo.

Daí a sensação que linhas melódicas simpáticas, como as de Deixa Eu Te Falar e de Nas Horas, sejam um tanto desperdiçadas no formato com o qual ele escolheu trabalhá-las, essa estética mais direta que pode ser lida por alguns como “menos caprichada”. Isso fica mais grave ao olharmos as letras, costuradas por pequenas frases de efeito (“Ninguém é de ninguém/Pare pra pensar/O amor pra existir/Tem que respirar/Pra quê tanto sufoco?/Dê um tempo ao tempo”, em Sufoco) ou rimas falsas (“Se ela voltar/Vou dizer ‘te amo’/Se ela não voltar/Penso em outro plano”, em Se Ela Voltar). A pequena e instrumental Io ser a faixa mais interessante do disco é, portanto, um grande indicativo da distância de qualidade deste para os outros volumes de sua discografia.

O contraste é muito intenso não só para quem acompanhou sua carreira com atenção nos últimos quatro anos, mas mesmo para quem, por exemplo, só assistiu ao seus clipes. A tensão entre o anterior Volta e o novo Eu Sempre Quis não está nas distinções entre as estéticas das canções, ela reside no quanto o estilo atual mostra-se bem menos interessante que o que já ouvimos, principalmente pelo quanto o vocal carregado de afetações (o que parece ser uma tentativa de aproximação ainda maior com o Pop) ofusca as referências contemporâneas – quase vanguardistas dentro desse cenário – presentes no instrumental.

Essas boas influências são parte do que faz Júpiter, ainda que inferior aos trabalhos anteriores de SILVA, ser acima da média dentro do mercado popular brasileiro no qual é lançado. O verdadeiro potencial de Lúcio como produtor, instrumentista e vocalista já foi provado diversas vezes e deve fazer seu retorno em breve (há esperança deste disco ter sido feito assim justamente para que seu próximo seja a melhor das surpresas). Por enquanto, fica o otimismo de que os versos depois de “Cansei de ser eu mesmo/Me deixa ser você” não se profetizem: “A vida não perdoa quem quer se reescrever”.

Loading

BOM PARA QUEM OUVE: Chet Faker, Justin Timberlake, The xx
ARTISTA: SILVA

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.