Resenhas

Silversun Pickups – Better Nature

Quarto disco do grupo americano não escapa da cópia

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Ano: 2015
Selo: New Machine
# Faixas: 10
Estilos: Post Grunge, Rock Alternativo, Indie Rock
Duração: 51:17
Nota: 2.5
Produção: Jacknife Lee

O grupo americano Silversun Pickups é, digamos, uma formação roqueira à moda antiga. Com carreira regular desde 2006, lançando este simpático Better Nature, quarto álbum de inéditas, os sujeitos apregoaram aos quatro ventos da imprensa mundial especializada que não têm mais em The Smashing Pumpkins a sua principal influência. Mais ainda: que buscavam no terreno dos anos 1980 novos rumos para sua mistura de Rock alternativo/Pós-grunge temporão. Até aí tudo bem, apesar dessa saída não significar exatamente um movimento original. O que é engraçado nisso tudo é que, ao empreender essa jornada àquela década, o quarteto de Los Angeles acabou soando exatamente como The Smashing Pumpkins, quando fez algo semelhante lá em 1998, em seu quarto disco, Adore.

A observação sobre influências não tira o mérito relativo de Better Nature, que é bem tocado, bem produzido (por Jacknife Lee, um queridinho dos estúdios, de U2 a Kings Of Leon) mas que não contém uma única canção memorável, alguma boa sacada nos arranjos, alguma surpresa ao longo de suas dez canções. É uma declaração de permanência absoluta na zona de conforto, de pouca ousadia e intenção de sedimentar sua música, em vez de, sei lá, buscar algo novo. Sabemos bem que nem todos os momentos da carreira de um artista se voltam para a busca do inédito ou de algumas guinadas estéticas que vão dar lá, mas, diante de tão propalada intenção de mudança, é risível que os sujeitos tenham dado uma volta em torno do quarteirão e parado num lugar bem próximo do ponto de partida.

Vejam, o disco não é ruim. Há canções interessantes como Connection, que soa como Zwan, aquela outra banda que Billy Corgan montou em meados dos anos 2000, que também parecia com …, bem você já sabe. O andamento é rapidinho, a voz do guitarrista Brian Auber é fanhosa e sofrida na medida certa e o instrumental dispõe pequenas explosões de teclados, baixo e bateria, tudo sob controle. The Wild Kind, lá no fim do álbum, soa como uma sobra de estúdio de Adore, o já mencionado álbum eletropop de Corgan e cia. lá em 1998. Isso também não desmerece a canção, uma vez que a apropriação dos tiques e taques é vigorosa e – aparentemente – feita com amor e dedicação aos climas insinuados há quase vinte anos, soando, ao fim das contas, como uma “apropriação da apropriação”.

Quando não está na copiadora musical, a versão 2015 de Silversun Pickups não soa muito diferente da maioria de bandas disponíveis na fronteira entre o underground e o mainstream. Faz música “correta”. Cradle (Better Nature) tem o mérito de não parecer com nenhuma criação de Corgan, mas os vocais de Auger nos lembram dele quase sempre. Pins & Needles tem instrumental “eletroacústico”, talvez intencionalmente datado, soando sem muita força mas com bom refrão, marcado por teclados atmosféricos. Friendly Fires é lenta e cinematográfica, mas eletrônica demais, algo que soa artificial por aqui, cheia de timbres robotizados de teclado e baixo, desaguando num andamento que não ata e nem desata. Nightlight lembra algo da fase atual de Mumford & Sons, com destaque para a voz da baixista Nikki Moninger confere algum tom de diferença, o que já funciona melhor que as “recriações vocais” de Aubert e sua admiração pelo abóbora-mestre. Circadian Rhythm pisa novamente no terreno oitentista mas, a essa altura, o registro de Auber já não pode – pelo menos para os ouvidos deste que vos escreve – ser dissociado de Billy Corgan. A banda ainda contribui com um instrumental qualquer nota, supostamente dramático-mas-dançante, que não ajuda. Tapedeck é uma tentativa de enfiar uma batida dançante e eletrônica no arranjo sem muito êxito, enquanto Latchkey Kids e Raggamuffin seguem aprisionadas nas variações de The Smashing Pumpkins, seja para a New Wave oitentista escurecida, seja para o épico Pós-Punk.

Silversun Pickups, repito, é uma banda correta, mas podia ter caprichado um pouco mais neste novo trabalho. Ainda soa excessivo no abuso de referências e sem capacidade para transformá-las em algo minimamente pessoal. Pedir o novo já é covardia nesse caso.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.