Resenhas

Sink Ya Teeth – Sink Ya Teeth

Dupla inglesa estreia com ótimo disco dançante

Loading

Ano: 2018
Selo: Hey Buffalo
# Faixas: 10
Estilos: Pop Alternativo, Eletrônico, Dance Music
Duração: 36:48
Nota: 4.0
Produção: Maria Uzor, Gemma Cullingford

Não sei se já é tempo de dizer que há um novo retrofuturismo na música Pop. Se houver, ele é bem vindo. Explico: o duo inglês Sink Ya Teeth lança este seu primeiro álbum homônimo como se estivesse pensando, agindo e tocando em 1983/84. Digo isso como o melhor dos elogios, até porque, a sonoridade que Maria Uzor e Gemma Cullingford, responsáveis por todos os sons que saem dos sulcos imaginários do disco, é inegavelmente um produto dos nossos tempos. Não há qualquer possibilidade de olhar para as dez faixas como exercícios nostálgicos. O que espanta, no entanto, é como tais informações sonoras velhuscas e banalizadas pelo tanto que são utilizadas por inúmeros artistas hoje, conseguem soar frescas e inéditas. Só posso pensar que Maria e Gemma, por puro talento/senso artístico, enxergam o mundo de hoje como um resultado concretizado do que gente como New Order, Soft Cell, Depeche Mode e outros musos inspiradores do duo, profetizaram. Parece confuso, né? Mas é simples.

É como se Sink Ya Teeth, o disco, fosse uma espécie de realização do chamado Pop Eletrônico/Post-Punk da geração oitentista. O som é depurado, límpido, reduzido ao essencial, ou seja, uma linha de baixo dançante, adornada por batidas bem pensadas e ruídos harmônicos aqui e ali, tudo convivendo sob a lógica de um instrumento portátil de geração/gravação de sons. É música feita em casa, quase inevitavelmente, compartilhada de experiências simples do cotidiano e de reflexões importantes e/ou desconcertantes sobre a pós-modernidade. Também é música de vizinhas, uma vez que a dupla mora próxima em Norwich. Tudo isso contribui para a tal atmosfera inegavelmente 2018 que as canções proporcionam, bem diferente do que poderiam render há 35, 40 anos.

A sonoridade seca é o grande barato por aqui. Mas não é o único. A capacidade de Maria e Gemma como compositoras é inegável, saltando aos ouvidos logo na segunda faixa, a ótima If You See Me, que é dançante, noturna, sexy e desconcertante ao mesmo tempo, se candidatando a um lugar na lista de melhores faixas do ano. Ainda que o conceito sonoro do disco não permita grandes variações de arranjo entre as canções, nunca há possibilidade de cansaço ou tédio em relação a elas. Inclusive, as dez composições fazem bonito como trilha sonora em transporte público, dança na frente do espelho ou numa pista suarenta em algum buraco com reputação a zelar. É, acima de tudo, Pop, excelente Pop.

Mais faixas memoráveis: Substitutes, que ostenta um belo riff de teclado com apoio de bateria sintética seco como uma tarde no deserto, mas que não deixa o ouvinte com sede, de maneira inexplicável. Petrol Blue, logo em seguida, tem baixo virtuoso e minimalismo que enfatizam os vocais fantasmagóricos com um quê de blues. Glass é outra beleza feita de acrílico e chips vintage, com clima distópico e reflexão sobre uma multidão de passantes que insiste em nos acompanhar em vários lugares. O fecho glorioso com The Law parece uma demo de New Order, que poderia ser incluída nas sessões de Low Life, um bruta elogio, convenhamos. O baixo de Peter Hook, uma das marcas registradas da música pop do século 20 é emulado satisfatoriamente ao longo dos pouco mais de 4 minutos da canção.

Este disco é uma pequena preciosidade eletrônica dos nossos tempos. Inteligente, eficiente e inspirado. Não deixe passar batido.

(Sink Ya Teeth em uma música: If You See Me)

Loading

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.