Aproveitando uma maré extremamente favorável para o Indie influenciado pelos anos 90, a jovem Lindsey Jordan lança para o mundo o projeto Snail Mail. O debute intitulado Lush chega com um je ne sais quoi que, por um lado, a coloca ao lado de um time de nomes promissores como Hop Along, Frankie Cosmos ou Soccer Mommy, enquanto, de outro, a destaca das demais por conta de sua força interior.
Embora seja fácil de perceber a qualidade do projeto através dos ouvidos, não é tão simples articular o porquê através de palavras. Jordan captura o ouvinte com sua fala sincera, abrindo os desgostos de ser adolescente para o ouvinte como quem coloca um diário aberto sobre a mesa. Soando paradoxalmente segura sobre sua vulnerabilidade, a entrega de Jordan na hora de compor e cantar suas melodias é uma coisa rara de se encontrar por aí. Vale também citar o ouvido generoso do produtor, que coloca a voz e a guitarra da artista em primeiro plano, favorecendo os pontos fortes da compositora em uma dinâmica sempre agradável aos ouvidos.
A fórmula das letras é orgânica e não se furta a crises juvenis e a lugares comuns do Indie. Há uma catarse emocional de quem se depara com as primeiras desilusões amorosas, com o processo de autodescobrimento que é sair do armário e com uma ideia de futuro ainda irremediavelmente distante. Stick, por exemplo, começa com uma guitarra em afinação aberta, idiossincrática à maneira de Sonic Youth, e não demora a discorrer melancolicamente sobre as inclinações da vida, até explodir, grandiloquente, em seu refrão catártico. É só um exemplo isolado, mas que parece descrever a lógica de Snail Mail como um todo ao longo de todo o trabalho.
Lush possui harmonias carismáticas e arranjos cristalinos, uma fala que diz a que veio, sem esquivar da indulgência na lírica que brota naturalmente da vida cotidiana. Snail Mail é não apenas uma das grandes promessas no terreno do Indie revival, é também dona de um dos melhores álbuns do ano neste cenário.
(Lush em uma música: Heat Wave)
