Resenhas

Snoop Dogg – Snoop Dogg Presents the Bible of Love

Rapper fica em segundo plano em disco longo e repetitivo

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Ano: 2018
Selo: RCA Inspiration/All the Time Entertainment
# Faixas: 32
Estilos: Gospel, R&B, Rap
Duração: 2h14
Nota: 2.0
Produção: B.Slade, DJ Battlecat & Snoop Dogg

Não é difícil entender as motivações de Snoop Dogg para produzir um disco de música Gospel, principalmente porque a fé se professa naturalmente na vida de qualquer um, artista ou não, das mais diversas maneiras. Também porque, e talvez principalmente, o tempo em que vivemos hoje, com tantas tensões, injustiças e intolerâncias, pede que cada vez mais gente se levante e comunique uma mensagem positiva. “Esse disco é sobre amor do início ao fim”, disse ele na ocasião do anúncio de Bible of Love, “é assim que você muda o mundo, colocando amor nele”.

Ainda assim, é surpreendente e questionável perceber que a maneira com que ele optou por trabalhar o lançamento seja em uma coleção de 32 faixas que se estende por mais de duas horas de duração, algo que vai na contramão, por diversos motivos, da maior parte da produção fonográfica de hoje em dia. E pior ainda: Snoop Dogg acrescenta pouco ou quase nada àquilo que já vem sendo lançado a tantos anos no meio Gospel norte-americano (principalmente pela população afro-descendente, distante de vertentes mais próximas do Country feitas pelos brancos), tanto em estética quanto em sua própria identidade.

A impressão é que ele se distancia das músicas, reúne os muitos convidados e acrescenta seus versos aqui e ali de acordo com o que manda algum “manual” imaginário do que as músicas sobre Jesus Cristo devem ser. Até mesmo a (terrível) capa do disco vem carregada de clichê, o que deve afastar muitos ouvintes de uma obra feita para propagar uma mensagem.

Há sim músicas boas em meio às 32 (a sequência On Time e You vale a audição), mas é sempre difícil aceitar um convite de investir mais de duas horas da sua vida em músicas que você parece já ter ouvido tantas vezes por aí – pior ainda se for fã de Snoop Dogg, que parece estar sempre em segundo plano no álbum. Convidados como Faith Evans, K-Ci e Patti LaBelle, entre tantos e tantos nomes, chamam atenção, mas não sustentam a obra.

No fim das contas, Bible of Love tem sempre cara de uma playlist de música Gospel, nunca de um álbum conceitual. E possui menos ainda as características que colocaram Snoop Dogg no mapa há mais de duas décadas. Fosse esse um disco propriamente dito do rapper, dentro do mesmo conceito, com a mesma mensagem e propósito, em uma duração mais objetiva, é bem provável que a aceitação fosse outra.

(Bible of Love em uma faixa: Saved)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.