Resenhas

Solange – When I Get Home

Artista vira uma nova página em sua história com um álbum pronto para ser referência nos próximos anos

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Ano: 2019
Selo: Columbia Records/Sony Music
# Faixas: 19
Estilos: R&B, Alt-R&B, Neo Soul
Duração: 39'
Nota: 5
Produção: Solange Knowles

Faz poucos meses que estávamos comemorando os vinte anos de The Miseducation of Lauryn Hill, data que colocou a cantora em uma turnê que passará pelo Brasil em breve. Seu lançamento em 1998 foi um marco na história da indústria fonográfica norte-americana como uma obra que conciliava o R&B e o Hip Hop da época pelas mãos e voz e uma artista que, além de cantar, escrevia e produzia suas músicas, apresentadas aqui dentro de um grande conceito que emendava as faixas umas nas outras enquanto explorava a herança de ritmos e estilos de décadas passadas. E era ainda um trabalho de uma mulher negra, o que sempre acarreta bastante significado no mundo como ainda o conhecemos.

Em 2016, quando Solange lançou seu A Seat at the Table, a comoção era semelhante, ainda que em outra escala. Isso porque a produção já estava mais pulverizada do que em 98, quando não existia o streaming digital e, por conta disso, havia menos lançamentos semanais do que hoje em dia. Ainda assim, a presença quase totalitária de Solange nas listas de melhores daquele ano deu a impressão de que a artista atingia ali seu grande momento criativo – o que era verdade até então. Até então.

When I Get Home traz muito de seu antecessor – além de uma descrição muito semelhante a que fiz de The Miseducation -, só que consegue dar um passo adiante na exploração de seus temas e em sua estética. Ele traz uma aura grandiosa trabalhada em geral por poucos timbres e elementos que acompanham os versos de Solange e de seus convidados. Há sempre várias dissonâncias e pequenas reviravoltas nas canções e em seus interlúdios, fazendo com que o álbum se desaproxime ainda mais do mainstream que seu anterior (que já estava longe de qualquer molde da indústria).

Não há também um grande hit. Down with the Clique é a primeira que parece mais pronta para ser promovida fora do disco, mas a voz de cabeça e o clima tão arrastado afasta a faixa de qualquer potencial radiofônico. Way to the Show, com sua pegada anos 1980, desce o tom para o refrão e fica com cara de que será apontada como a preferida por muitos no disco, mas dificilmente chegaria ao topo das paradas. Almeda ganhou clipe, mas, assim com Jerrod, está longe de ter algum carisma Pop que permita suas repetições em rádios e playlists de grande alcance.

Isso tudo, sabemos, é plenamente intencional. Assim como aconteceu nos últimos anos, Solange parece trabalhar uma imagem de ser o lado-B do que sua irmã Beyoncé promove em termos de resposta à indústria. Se as duas estão alinhadas na mensagem de empoderamento, Solange habita a margem do sistema fonográfico, mais próxima da vanguarda do R&B e Neo Soul que explora no disco.

E é aí que aparece um dos grandes méritos da obra. When I Get Home chega como um álbum plenamente agradável, do tipo que suga o ouvinte em sua narrativa e oferece algo novo de pouco em pouco tempo (só quatro faixas ultrapassam os três minutos de duração). Ele não só reúne R&Bmuitas características que acompanhamos nos outros discos atuais como também tem cara de que tem tudo para, assim como The Miseducation of Lauryn Hill foi nas últimas duas décadas, aquela obra que diversos novos artistas vão chamar de “influente” nos próximos anos. Assim como foi com Lauryn Hill, Solange já era uma artista bem conhecida quando este disco chegou, mas firma com seu lançamento um status de “página virada” tanto em sua carreira como na música desta época – talvez pelo fim da década, ou talvez porque aquele cenário fonográfico em constante mudança há tantos anos parece agora finalmente entender o espaço que álbuns, com todas as suas particularidades, possuem em nossos dias.

(When I Get Home em uma música: Jerrod)

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BOM PARA QUEM OUVE: FKA Twigs, Sampha, SZA
MARCADORES: Alt-R&B, Neo Soul, R&B

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.