Resenhas

Sophie Ellis-Bextor – Familia

Cantora inglesa retorna com belo disco de Pop contemporâneo

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Ano: 2016
Selo: EBGB
# Faixas: 11
Estilos: Pop, Dance Music
Duração: 45:25
Nota: 4.0
Produção: Ed Harcourt

Há pouco mais de dois anos, eu, este amigo de vocês, resenhava aqui no Monkeybuzz o trabalho anterior de Sophie Ellis-Bextor, Wanderlust, e, usando de bons termos e civilidade, o detonei sem muita possibilidade de retorno. Sendo assim, ao dar início à pequena pesquisa para fornecer opinião sobre este sucessor, Familia, dei de cara com os números de Wanderlust. O disco não só vendeu bem, como teve bom desempenho nas paradas britânicas e – medo – serviu como ponto de partida para a criação deste novo trabalho. Se o original era maçante e empastelado – termos que eu não usei na resenha – o que poderia esperar desta sequência, provavelmente uma diluição do conceito original, com a força de um pacote de Tang numa piscina olímpica. Pois bem, errado estava eu. Este novo trabalho é muito superior ao anterior e redime a moça de qualquer erro pregresso. Sim, isso mesmo.

Sophie repete a dobradinha com Ed Harcourt, que pilota o estúdio e, claro, dá pitacos importantes, sobretudo na tentativa de revestir sua clássica abordagem Pop, oriunda da interseção Dance oitentista e das obras de gente como Roxette ou Pet Shop Boys, com um verniz 2016 que cai muito bem nas composições. Ed não havia conseguido o mesmo efeito no disco anterior, que soava muito fora de lugar em sua maioria. Agora, devidamente acertada a paleta de cores, Sophie teve espaço para gravar algumas excelentes canções, especialmente baladões dramáticos, que soam fora de lugar nos nossos tempos de pouca emoção e intensidade sentimental. Com instrumental linear e tradicional, usando a formação básica de baixo, bateria, guitarra e teclados, além de um uso da Eletrônica apenas como ferramenta facilitadora, o resultado que sai das caixas de som aponta para um disco elegante e bem legal.

Nem só de boas baladas vive Familia. A faixa de abertura, a excelente Wild Forever, tem uma batida de Indie Dance que é novidade para a obra de Sophie. Mesmo que tenha esta aura moderninha, a menina tem voz potente o bastante para criar um contraste legal e percorrer a melodia com elegância. O bom refrão explode na hora certa, o arranjo é no ponto e tudo funciona por aqui. Outro exemplo desta canção mais rapidinha é o single Come With Us, no qual Sophie dá um sobrevoo nas músicas que faziam sucesso nos anos 1980, mas ainda com um forte acento de Disco Music setentista, tudo reempacotado e modernizado para consumo e apreciação de hoje. A voz, o balanço, a levada de baixo, devidamente engordado para soar com propriedade dentro do contexto, tudo isso passa a imagem de que Ed e Sophie sabem exatamente o que estão buscando e como o farão para chegar lá.

Sutilezas também surgem ao longo do álbum. Cassandra é outra canção supostamente para dança, mas é mais lenta, com espaço para interpretação classuda de Sophie, em meio a um arranjo bonitinho e cheio de climas. Hush Little Voices tem um naipe de metais dando profundidade ao drama da letra, que discorre sobre o que se sente quando a relação amorosa ficou abusiva. Mas a maior beleza deste álbum, sem dúvida, surge em Crystalize, uma balada de gente grande, com bela presença de pianos e teclados, que erguem um acompanhamento luxuriante para que a voz preencha espaços. Em algum lugar, um arranjo de cordas surge para dar mais tristeza e tons sépia ao resultado. Lembra de alguma forma as baladas de Madonna, especialmente Used To Be My Playground, que foi gravada em 1992 para a trilha sonora do filme Uma Equipe Muito Especial. A interpretação de Sophie vai crescendo e ampliando a base do arranjo, com um efeito muito bonito. Talvez seja a grande balada Pop deste ano, caso alguém ainda preste atenção neste tipo de canção hoje em dia.

Familia, que é o sexto disco lançado pela cantora, mostra como é possível amadurecer com dignidade, sem abrir mão da evolução e conseguindo, ao lado de tudo, soar instigante. Sabemos que é mais um (bom) disco de Pop, mas soa como um tempero ou um contraponto à variação eletrônica e monocórdia que está vigente. O negócio por aqui é classudo, dramático, europeu, chique. Boa pedida.

(Familia em uma música: Crystalize)

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BOM PARA QUEM OUVE: Ed Harcourt, Ladyhawke, Pet Shop Boys
MARCADORES: Dance Music, Pop

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.