Resenhas

Sophie Ellis-Bextor – Wanderlust

Cantora consagrada do começo do século 21 desliza um pouco em seu novo trabalho

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Ano: 2014
Selo: EBGB
# Faixas: 11
Estilos: Pop, Dance
Duração: 41:03
Nota: 2.0
Produção: Ed Harcourt

O mundo Pop é um lugar intrigante. No início de sua carreira, Sophie Ellis-Bextor ocupava o posto de vocalista numa banda chamada The Audience, surgida no fim da década de 1990, com uma versão light e sem efeitos colaterais do Pop mais atormentado da época, uma onda meio Fiona Apple, mas sem muito sofrimento, mais pra editorial de revista de moda que pra pulsos lacerados. O grupo não foi muito longe, mas chegou a fazer sucesso nas paradas inglesas com uma canção esquecível chamada The Wherewithal. Em 2001, Sophie apareceu nas paradas do planeta sob toneladas de produção, voltada para o lado dançante da Força, com o hit mundial Murder On The Dance Floor e iniciou uma carreira solo calcada na visão europeia mais limpinha de música para dançar. Agora, com o lançamento seu novíssimo álbum, a bela moça, talvez em busca de uma visão séria da crítica para seu trabalho, abandona sua pele de pista de dança e adentra o terreno das baladas emocionais e dramáticas. Mais maturidade? Será mesmo?

O disco que vai conduzir Sophie aos saraus mais sérios da música popular se chama Wanderlust e vem puxado pelo single Young Blood, uma balada bonita e pungente na qual os vocais límpidos da moça encontram moldura pianística e climática para um vôo seguro e livre de imprevistos. É legal e eficaz se você não tem absoluta noção de que há gente mais credenciada e sofrida para colocar o coração na ponta da caneta (ou do teclado – estamos no século 21, ora pois) e verter letra e melodia torturadas para uma balada triste. Não que Sophie tenha que viver num loop temporal eterno, num Dia da Marmota em que sempre será jovem e bonita, mas, este primeiro sinal de fumaça não convenceu. O álbum oferece um pouco mais, mas nem tanto, como prova a abertura com Birth Of An Empire, um tanto mais vigorosa, menos indicada para espíritos contemplativos ou conformados. Until The Stars Collide é mais Pop, menos triste, lembrando alguma coisa que sua conterrânea Dido faria, mas sem a inclinação eletrônica. Runaway Daydream tenta emular algo do tempo dos girl groups, mas não escapa do pastiche, com muita pinta de canção que só existe em trilhas sonoras de filmes como O Diário de Bridget Jones 2.

A abertura de The Deer And The Hunter anuncia uma sonoridade mais “pra cima”, com guitarras strokianas em tom extra-light, que não chega a fazer feio. Alguma sombra do passado recente de Sophie surge na esquisita 13 Little Dolls, que tenta fundir uma levada semi-Rock parecida com uma velha canção do U2, chamada Desire, que, por sua vez, já rapinava a levada ancestral de Bo Diddley. A persona rocker não cai muito bem em Sophie, que se sente mais à vontade na canção seguinte, Wrong Side Of The Sun, outra balada solene, mas com menos sacarina e uma levada mais arejada. A pior faixa de Wanderlust surge logo em seguida, sob a levada fake de uma valsa estilizada, Love Is A Camera não consegue ser cafona intencionalmente, não tem senso de humor e resvala para uma tentativa séria de fazer algo diferente, mas que é vaporizada por um suspiro de gente como Rufus Wainwright, por exemplo, devidamente credenciada a adentrar o terreno camp da música Pop com maestria e sair-se ileso. Neste ponto, a produção de Ed Harcourt, um sujeito com razoável quilometragem pelas vielas mais noturnas da alma, não consegue tornar real a angústia existencial da moça, o que é lamentável e comprometedor da qualidade do disco, que mais parece uma lamúria de alguém que tem tudo, é linda, mas posa de angustiada diante das concorrentes do último ano do ensino médio.

As duas melhores faixas de Wanderlust são as que encerram o álbum. Enquanto When The Storm Blown Over consegue, finalmente, encontrar o ambiente exato para a voz de Sophie soar convincente, o grande momento dessa empreitada é Cry To The Beat Of The Band, dramática e exagerada na medida, como se fosse um momento perdido de Abba ou Roxette, devidamente envolta em orquestrações belas e preciosas, que dão um fio de esperança para os vôos futuros desta bela mocinha, na dura missão de acertar a mão na seara Pop. Sophie ainda dispõe de crédito junto a nós.

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BOM PARA QUEM OUVE: Gabriela Cilmi, Stereo MC's, Jamiroquai
MARCADORES: Dance, Pop

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.