Resenhas

Speedy Ortiz – Twerp Verse

Banda produz uma música dissonante como metáfora para o incômodo

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Ano: 2018
Selo: Carpark
# Faixas: 11
Estilos: Indie, Rock Alternativo
Duração: 35
Nota: 3.5
Produção: Mike Mogis

Ao longo das últimas semanas, tive a oportunidade de escrever sobre bandas como Hop Along, Frankie Cosmos ou Soccer Mommy. A conjunção destes nomes – apenas alguns exemplos ao lado de tantos outros possíveis -, chama a atenção para um sintoma, cujo diagnóstico não pode ser outro senão a certeza de que o Rock Alternativo dos anos 90 pulsa forte no imaginário da nova geração estadunidense.

Faz sentido, pois o círculo de vinte anos costuma ser o suficiente para pessoas, que cresceram sob uma influência, começarem a depositar suas referências na música que fazem. Este fenômeno, conhecido na moda, na música, e, enfim, nas artes em geral, é o que deu origem ao termo vintage.

Speedy Ortiz, vinda de Massachusetts, se encaixa nestes parâmetros. No entanto, assim como é com os melhores exemplos que fazem parte desta cena, a banda possui um jeito muito próprio de lidar com as amarguras da vida. Diferentemente de seus pares, Sadie Dupuis não escreve letras claras, carregadas de substantivos. Há em Speedy Ortiz um apelo à poesia, que forma uma malha intrincada de sons, texturas e sensações.

Dupuis tenta dar conta de articular, ao mesmo tempo, um humor sarcástico, constatações amorosas e um artesanato lírico. O resultado é uma música dissonante. Esta, aliás, é uma característica muito marcante de Twerp Verse: duas bandas parecem estar tocando ao mesmo tempo por aqui, como se a música abarcasse todos os desencontros de que pretende dar conta. Guitarras distorcidas puxam a melodia para lugares inesperados, enquanto a voz ensolarada da vocalista ganha, por conta disso, ares mais nublados.

O clima de incômodo provocado pelas notas quase fora de lugar ajuda a ilustrar o lugar de uma mulher diante do machismo, tema que percorre, em diferentes graus, o álbum como um todo. Tal situação está muito bem ilustrada pelo clipe de Villain, no qual a figura do homem é substituída por um peixe, este ser escamoso que se aproxima escorregadio da mulher no trabalho, no ponto de ônibus, em casa, provocando, de um jeito disfarçado, um clima no qual se torna difícil de respirar.

Há alguns anos, Lucas Repullo disse que uma das principais características de Speedy Ortiz é “uma certa displicência ao tocar, mas vinda das mãos de quem tem os instrumentos como parte do corpo, fazendo com que melodias contagiantes surjam em meio ao caos das guitarras”. Esta extensão, a de um corpo incomodado que se confunde com a música que produz, continua sendo o ponto forte da banda.

(Twerp Verse em uma música: Buck Me Off)

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BOM PARA QUEM OUVE: Hop Along, Frankie Cosmos, Soccer Mommy
ARTISTA: Speedy Ortiz
MARCADORES: Indie, Rock Alternativo

Autor:

é músico e escreve sobre arte