Resenhas

Stephen Malkmus – Traditional Techniques

Com a desenvoltura de um mestre, Malkmus experimenta novas roupagens

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Selo: Matador, Domino
# Faixas: 10
Estilos: Country, Folk, Psicodélico
Duração: 41'
Produção: Chris Funk

Stephen Malkmus fez história com o Pavement ao determinar um parâmetro de qualidade para a Música Alternativa ‒ alcunha pela qual era chamada, aqui no Brasil, o estilo que, nos anos 90, deu origem ao Indie. Desde que o projeto se encerrou, o músico já lançou oito álbuns “solo” (se levarmos em conta aqueles lançados com a banda The Jicks). Ao longo dessa trajetória, a linha de pensamento de Malkmus foi mais ou menos a mesma: fiel ao estilo que sempre teve, embora tenha expandido seu repertório com uma ou outra variação sobre o mesmo tema.

Traditional Techniques é o nono álbum dessa lista e, agora, o músico altera um pouco o tom daquilo que estávamos acostumados a ouvir. Ou melhor, os adornos que este disco ostenta o transportam para um universo distinto de seus antecessores. Aqui, o violão de aço lidera o caminho e substitui a guitarra, o que dá uma aura Country Folk ao trabalho, como se Malkmus tivesse encarnado um personagem pronto para explorar o interior dos Estados Unidos munido apenas de suas canções. A ele, juntam-se o guitarrista Matt Sweeney, o multi-instrumentista Chris Funk, o músico afegão Qais Essar, entre outros.

A produção austera e o clima psicodélico do trabalho, que alude ao estilo de vida hippie sessentista, se dá muito pela inflexão de Chris Funk, que é também o produtor do trabalho. No entanto, Malkmus não abre muito espaço para que o sublime espiritual aconteça: ao contrário, suas composições são sarcásticas e fazem uso indiscriminado de humor e trocadilhos para imprimir uma visão cínica sobre a sociedade contemporânea.

As canções passam por questões como o fardo decadente do capitalismo tardio que o planeta vive (“ACC Kirtan”), os jargões de internet, a visão alarmista de um apocalipse que se aproxima e a saturação de imagens e informação a que estamos submetidos (“Shadowbanned”). Além de uma autocrítica à geração boomer e à crença messiânica de que tempos melhores viriam com a era de aquário (“Flowin’ Robes”)

Nesse sentido, Traditional Techniques parece bastante equalizado com Wilco e outras bandas similares, que tentam formular a angústia perante a vida contemporânea em tempo real. São músicos veteranos que parecem olhar com ressentimento para a passagem do tempo, sublinhando o escape evidente que aflora no uso excessivo das redes sociais. Entre baladas vespertinas, que evocam o pôr do sol, e ruminações alcoolizadas sobre uma distopia iminente, Malkmus experimenta novas roupagens em uma linguagem que domina com a desenvoltura de um mestre.

(Traditional Techniques em uma música: “Brainwashed”)

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Autor:

é músico e escreve sobre arte