Resenhas

Sufjan Stevens, Bryce Dessner, Nico Muhly e James McAlister – Planetarium

Disco mostra-se desafiador ao ouvinte por sua longa duração e tema muito específico

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Ano: 2017
Selo: 4AD
# Faixas: 17
Estilos: Eletrônico Experimental, Folk Experimental, Indie
Duração: 1h16
Nota: 3.5

Se uma grande reunião entre bons músicos não teria como dar errada, impera a sensação de que Planetarium acertou menos do que o esperado – embora ainda mostre-se bastante acima da média nos mais diversos aspectos. O projeto, feito no início da década sob encomenda a um teatro holandês, teve só agora seu registro concluído e lançado em uma obra de produção exímia que encontra uma audiência na era do streaming com dificuldades de se comprometer a uma audição tão dedicada.

Com 17 faixas que se alongam por mais de uma hora, Sufjan Stevens, Bryce Dessner, Nico Muhly e James McAlister revelam suas fluências em composições e arranjos, com Sufjan sempre em primeiro plano, seja nos vocais ou na sua estética que experimenta com o Folk e a Eletrônica ao mesmo tempo. A inspiração é clara desde seu nome: Planetarium passeia pelo espaço com uma música para cada um dos planetas em nossa galáxia em referências – nesta que foi a melhor ideia do disco – também aos deuses greco-romanos que os batizam.

É claro que tudo isso acontece em uma ambientação bastante poética, tendo pouco a ver com uma aula de astronomia. Ainda assim, principalmente na metade do álbum, a lembrança que fica é a de uma trilha sonora de um documentário sobre o espaço ou mesmo de uma apresentação em um planetário. E é aí que a obra, mesmo sem esconder sua beleza, começa a ficar desinteressante, ou ainda mesmo entediante.

Se as músicas reveladas antes de seu lançamento (Saturn, Mercury e Venus) apontavam para um disco de canções dentro da estética já citada, há uma longuíssima sequência de faixas predominantemente instrumentais que, sozinhas, sem um amparo visual ou verbal, chamam pouca atenção. Não à toa, quando Saturn surge, ela parece ficar até melhor mesmo do que é, por quebrar o tédio com a interpretação energética e “autotunada” de Sufjan.

Com isso, chegar até o clímax na faixa Earth (e atravessá-la, já que possui mais de quinze minutos de duração) mostra-se quase uma prova de resistência, a não ser que o ouvinte esteja muito no clima de escutar uma trilha sonora de documentário com momentos que lembram The Age of Adz, embora menos carismáticos, ou envolventes. Ainda sobre Earth, ela resume bastante todo Planetarium não só pelos momentos etéreos e volumosos, mas também por uma melancolia latente – na letra, um ser humano lamenta a destruição do planeta em seu leito de morte – que resume bastante o clima do tempo que vivemos (e justifica seu lançamento anos depois de sua concepção).

Mercury encerra o disco como uma das canções mais bonitas da temporada em um clima, ironicamente, bastante diferente da grande maioria que ouvimos até então, em outra maneira dos timbres ocuparem os espaços sonoros e sem a forte carga eletrônica (assim como na introdução com Neptune). Planetarium enquanto uma peça apresentada ao vivo certamente possui uma força diferente, causada pela imersão presencial, mas, no formato disco, requer uma dedicação do ouvinte que é dificilmente encontrada. Vale a pena, no entanto, guardar suas favoritas do repertório e voltar a elas como músicas individuais, não como álbum, ou criar uma playlist com uma versão reduzida da obra, só com seus pontos mais altos, o que deve gerar uma audição mais prazerosa. Cabe ao ouvinte, devo dizer, decidir o que essa constatação revela sobre o disco.

(Planetarium em uma música: Earth)

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Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.