A famosa máxima nos diz que o cão é o melhor amigo do homem. Porém, muitas vezes, aquele velho companheiro de madeira e de seis cordas pode ser esse melhor amigo, que nos ouve, nos faz chorar para tirar o peso do peito, e até nos coloca um sorriso leve no rosto. Ao ouvirmos Benji, parece que foi esse amigo, o violão, que Mark Kozelek – o nome por trás de Sun Kil Moon – escolheu para se expressar e se confortar.
Com acordes simples e delicados, Mark nos traz um álbum de uma extrema leveza em sua instrumentação e voz, mas incrivelmente denso em sentimentos fortes e comoventes através de suas letras. Se ao ouvirmos apenas seu violão dedilhado, temos a sensação de tranquilidade e paz, ao prestarmos atenção em suas letras, percebemos temas como perda – ou medo da perda – de entes queridos, primeiros relacionamentos e primeiros corações partidos. Extremamente confessional, com letras que falam de experiências pessoais, ao darmos o play, temos a sensação de estarmos mergulhando por entre as páginas do diário de Kozelek. Páginas estas onde o mesmo encontrava abrigo, algúem para desabafar e lhe dar proteção.
Como dito, apesar de delicado na musicalidade, as letras apresentam fortes dramas. Logo no começo, com a primeira canção, Carissa, nos é contada a história da prima de Mark que morre, jovem, aos 35 anos, em um incêndio acidental, deixando dois filhos e muitas saudades (“Carissa burned to death last night in a freak accident fire/ In her yard in Brewster her daughter came home from a party and found her(…) Carissa was 35/ You don’t just raise two kids, and take out your trash and die/ She was my second cousin, I didn’t know her well at all/ But that doesn’t mean that I wasn’t”)
A temática da perda ainda prossegue ao tratar do medo de perder sua mãe em I Can’t Live Without My Mother’s Love (”My mother is seventy five/ One day she won’t be here to hear me cry/ When the day comes for her to let go/ I’ll die off like a lemon tree in the snow”) e do tio em Truck Driver.
Além de tristezas, Mark ainda nos fala sobre os ensinamentos de seu pai em I Love My Dad (”(…)And then my dad sat me down, he said you gotta love all people, pink, red, black, or brown(…) I love you, dad”) e sobre seus primeiros relacionamentos em Dogs (”Mary Anne got cold and abruptly broke it off for a guy with sweatpants and a pick-up truck/ I begged her not to dump me and I pleaded no/ But her body language told me it was time for me to go.”).
Ao final, em Ben’s MY Friend, a única canção mais animada de todo o disco, temos uma homenagem de Kozelek ao amigo Ben Gibbard da Death Cab For Cutie e The Postal Service falando, entre outros temas, como o conheceu. Tudo de uma forma bem humorada, algo praticamente inédito na obra (*”Thought of Ben when I met him, in 2000/ At a festival in Spain, he was on a small stage then/ And I didn’t know his name/ Now he’s singing at the Greek and he’s busting moves”).
Com letras longas, mas que nos enchem os olhos – mesmo que quase sempre de lágrimas – as composições são extremamente cativantes, fazendo o ouvinte se tornar um espectador da história que Mark tem a nos contar. Ao final, o disco parece ser seu mais humanizado e sincero trabalho e desse modo, por essa entrega total, resultou-se, não só em um de seus mais belos registros, mas também em um dos discos mais bonitos que já ouvi nos últimos tempos.
Benji é um álbum que torna indispensável a total atenção às letras das canções. Uma obra que ao soar limpa, sem “ruídos” excessivos, apenas com a voz e um violão tímidom mas cheio de emoção, te convida para ouvir atentamente as palavras que Mark Kozelek tem a lhe falar e que com certeza irão de alguma forma te tocar quase que fisicamente, de forma delicada e cheia de ternura.