Resenhas

The Blind Boys of Alabama – I’ll Find a Way

Produzido por Justin Vernon, novo disco do conjunto transmite emoção confirmando a importância da banda no cenário Gospel

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Ano: 2013
Selo: Masterworks
# Faixas: 11
Estilos: Gospel
Duração: 41:10
Nota: 4.5
Produção: Justin Vernon

The Blind Boys Of Alabama são uma verdadeira instituição na música Gospel, com mais de sessenta anos de atividade. Já viram muita coisa, ascensões e quedas, idas e vindas, altos e baixos do próprio planeta ao longo desse tempo. De alguma forma, estão gravando, ainda que nenhum de seus integrantes originais tenha permanecido para ver que o destino reservava uma curiosa e comovente longevidade para o grupo. No início, liderados por Clarence Fountain, eram realmente cegos e faziam disso um elemento poderosíssimo em sua performance. Só no fim dos anos 80 eles foram capazes de furar o bloqueio comercial e chegar à Broadway, com um espetáculo que os projetou para um público muito maior, chegando a fazer uma ponta no clássico seriado dos anos 90, Barrados No Baile.

Devidamente colocados no mapa a partir disso, os BBA foram recrutados por Peter Gabriel para participar de seu disco Up, em 2002. Gabriel já conhecia o grupo e lhes oferecera um contrato com seu recém-criado selo, Real World, o que resultou no disco Spirit Of The Century, no qual os BBA fazer versões de músicas de Tom Waits, Rolling Stones e Ben Harper. No ano seguinte viria um disco gêmeo, Higher Ground, também com músicas seculares e Gospel. Na década de 2000, The Blind Boys entraram em franca atividade, chegando a gravar disco ao vivo com Ben Harper (There Will Be A Light, 2004), participar do disco do cubano Ibraim Ferrer (Buenos Hermanos, 2003) e grandes registros sonoros, além de atingir em cheio as gerações mais novas, tanto de público, como de músicos.

Justin Vernon, o sujeito por trás do Bon Iver, é o piloto do estúdio nesse sublime I’ll Find A Way, que torna possível entender a pluralidade da música, dita espiritualizada. Muito além da picaretagem oportunista de pastores e intermediários diversos no caminho com as altas esferas da existência, a música Gospel negra de origem americana é detentora de força extraordinária, até para os mais desapegados seres. Vernon foi capaz de trazer esse espírito para o estúdio, além de conferir ao disco uma aura etérea que ele mesmo obtém em seus discos como Bon Iver. Além disso, outros jovens músicos participam do disco, como Shara Worden (My Brightest Diamond) na faixa título, Merrill Garbus (dos tUne-yArDs) em I’ve Been Searching, além do próprio Vernon em Every Grain Of Sand.

Outro grande destaque é a versão belíssima para There Will Never Be Any Peace (Until God Is Seated At The Conference Table), originalmente gravada pelos Chi-Lites. I’ll Find A Way é um disco plácido, contemplativo e muito bonito. Reafirma a existência de álbuns capazes de curar, mesmo que, como eu, você acredite bem pouco no poder além da vista.

Ouça!

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.