Resenhas

The Brand New Heavies – Sweet Freaks

Novo álbum do grupo londrino esbanja classe e grooves bem azeitados

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Ano: 2014
Selo: Ear Music
# Faixas: 11
Estilos: Acid Jazz, Dance, Funk
Duração: 43:08min
Nota: 3.5
Produção: Simon Bartholomew

A cena dançante londrina mantém-se viva e quicante. Não bastassem as idas e vindas das novas vertentes eletrônicas da moda, o Acid Jazz (ou Acid Funk) permanece forte e já se vão cerca de 30 anos desde a formação desta que é sua maior representante: The Brand New Heavies. Verdade que o quarteto inglês só despontou no início dos anos 1990, mas seu caminho remonta ao distante ano de 1985. Elegantemente econômico em sua discografia, o lançamento deste ótimo Sweet Freaks mostra que o grupo está num pico de criatividade interessante: soltou Forward em 2013, após um hiato de quatro anos, quando pôs na praça o ao vivo Live In London. A cantora novata Dawn Joseph, que dividia com a espetacular N’Dea Davenport as funções vocais no ano passado, agora está devidamente efetivada na posição principal do palco.

A sonoridade mantém-se afiada através dos tempos. Não evolui porque não há para onde ir além da mistura envenenada, composta por batidas jazzísticas nervosas, guitarras em chacundum constante e groove matador de baixo, devidamente temperados por metais em brasa, teclados econômicos e um desejo indisfarçável de soar como uma versão moderna e urgente de formações brilhantes do passado funky como Earth, Wind And Fire, Chic ou Kool And The Gang. A produção do guitarrista Simon Bartholomew assegura essa disposição estética sem que pareça um mero exercício de revisionismo ou desespero por nostalgia, pelo contrário. Sua ação no estúdio e no instrumento faz a coisa toda soar nova, inventiva e criativa. O grande exemplo vem logo após o groove racha-assoalho da faixa título, com levada de baixo e arranjo que tangenciam a Disco Music, lembrando bastante os grandes sucessos de Nile Rodgers e seu Chic. A cover de Sledgehammer, cavalo de batalha de Peter Gabriel, é a maior prova do olhar contemporâneo dos Heavies. Com riffs de teclado, bateria nervosa, baixo sinuoso e os vocais aveludados (porém fortes) de Dawn nos fazem ter a certeza que a canção é autoral e velha conhecida de vários shows, mostrando que eles estão cientes da velha máxima na hora de fazer versões, a de nunca soar como o original e fazer de tudo para apropriarem-se da música.

Ao contrário do que pode se esperar num álbum destes, as canções são bem variadas. In The Name Of Love é uma releitura dos arranjos e detalhes das produções da Disco Music mais tradicional. Bring The Rain já é mais suingada e com inflexões Soul inegáveis, porém com balanço suficiente para as pistas de dança mais noventistas. ’95 Tonight, como o título já entrega, é uma incursão precisa naquela cena dançante e europeia dos meados da década de 1990, mostrando o quanto havia de riqueza de arranjos e do luxo instrumental. Pleased To Meet Ya já traz levada com órgão e metais Soul que entram em contraste com a doçura da voz de Dawn, criando uma adorável canção Pop. Get On tem baixo e guitarra conspiratórios, segundando a voz sussurrada de Joseph, também com belo resultado assoviável.

We Live For The Summer, como o nome já diz, mostra como essas canções, aparentemente feitas para a noite e para as pistas, podem soar ensolaradas e abertas, boas para um passeio no parque. Self Portrait e We Are The Fire já são feitas para o remelexo total sob um belo globo espelhado, esbanjando classe e precisão técnica. O encerramento vem com mais uma versão, dessa vez para Don’t Let Go, que fez sucesso nos anos 1990 com o trio vocal americano En Vogue. Aqui a canção surge revitalizada, com belo arranjo moderníssimo e cheio de ambiências da cidade e das pessoas que vão passando. A letra de amor e medo da perda se incorpora ao todo cotidiano sentimental de maneira natural.

Neste que é o décimo disco de sua carreira, The Brand New Heavies se posiciona como representante digno da cena dançante noventista e mantém-se relevante e produtivo, sem resvalar na autoparódia ou desviar de seu caminho musical. Indicado para quem tem a noção exata que é possível dançar na noite sem ter apenas Synthpop como fundo musical.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.