Resenhas

The Chap – Digital Technology

Sétimo disco do grupo segue trabalhando com a ironia ao olhar para o futuro da humanidade com humor no lugar do desespero

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Ano: 2020
Selo: Lo Recordings
# Faixas: 10
Estilos: Art Pop, Alternativo
Duração: 42'
Produção: The Chap

Um palavrório intelectual salta aos olhos daquele que visita o site de The Chap. Ao pé da página inicial, é possível encontrar aquilo que a banda diz ser o seu lema: “administração total corresponde àquele momento histórico no qual a racionalização técnica e a instrumentalidade, a serviço do capital, se alastra para além das relações sociais e políticas do sujeito-externo para penetrar e determinar, a um nível fundamental, a individualidade psíquica-interior”. A sentença, escrita assim dessa maneira, é uma piada. Não pelo seu conteúdo, que até faz sentido, mas pelo modo como é construída. A ironia é uma marca característica da banda inglesa, na verdade é ela que dá o tom de toda a sua discografia, mas ela imprime um peso especial em Digital Technology.

Este é o sétimo álbum do grupo, gravado e produzido ao longo de três anos entre Londres e Berlim. Sua sinopse possui o mesmo humor característico: “Num futuro próximo, quando os algoritmos tiverem sentimentos, eles escreverão toda a nossa música. Quando eles tentarem escrever música Pop que parece ter sido feita por europeus talentosos em 2018, farão algo parecido com Digital Technology.” De fato, ao longo das faixas, o ouvinte vai se deparar com uma fusão improvável entre o Techno e o Britpop, em composições multifacetadas e absurdas de tom surrealista.

Digital Technology é a versão distópica de uma banda que tem o humor como arma principal. Entre paródias sobre a estética digital e a necessidade real de comentar o mundo em que vivemos, The Chap constrói um universo muito particular. Enquanto muitos trabalhos contemporâneos cantam sobre o desastre iminente do planeta, o grupo parece olhar contemplativamente para os espaços vazios deixados pela política. 

Letras como “quando você morrer, traga o seu golfinho”, da música “Bring Your Dolphin”, parecem compostas por algum algoritmo mal programado. Mais absurdo ainda é que, no fim, as coisas se encaixam e tudo parece fazer sentido. Entre sintetizadores, arpejos e percussão bate-estaca, momentos epifânicos e melodiosos soam, mesmo que propositais, como felizes coincidências.

Existem muitos artistas que parecem fazer música porque precisam pôr para fora seus demônios. The Chap, por outro lado, parece que faz música porque sabe e porque quer, oferecendo assim uma outra realidade possível, a de quem brinca com assuntos perigosos, como se fizesse malabares metafóricos com instrumentos cortantes. Nesse sentido, Digital Technology é a proposta mais afiada do grupo até hoje.

(Digital Technology em uma música: “Pea Shore”)

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ARTISTA: The Chap

Autor:

é músico e escreve sobre arte