Resenhas

The Courteeners – Concrete Love

Novo álbum do grupo inglês tem grande canção Pop, “Summer”

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Ano: 2014
Selo: Cooperative/V2
# Faixas: 10
Estilos: Alternativo, Indie Rock, Indie Pop
Duração: 46:18min
Nota: 3.0
Produção: Joe Cross

A mesma cidade de Manchester, que já deu ao mundo bandas como The Smiths, Oasis e Stone Roses, só para ficar nas mais famosas dos últimos 30 anos, hoje é o lar de formações como The Courteeners. O quarteto é capitaneado por Liam Fray, um desses cantores/compositores/guitarristas com pinta de que estão a um passo de reinventar o significado do Rock, mas que falham miseravelmente. Ainda que estas palavras soem desabonadoras em relação à banda e a este seu novíssimo álbum, há uma canção que salva o disco de ser mais uma interminável procissão de tiques e taques de outras épocas, sem a mínima inventividade, essencial para cruzar a fronteira da xerocópia pura e simples e adentrar o terreno da “influência artística”. Tal milagre Pop Rock atende pelo nome de Summer, mas vejamos o que Concrete Love tem para nos oferecer.

A guinada rumo às influências Synthpop oitentistas aconteceram no álbum anterior, Anna (2013), e modificaram a sonoridade da banda. O que parecia uma tendência momentânea configurou-se como uma incorporação definitiva no espectro musical. A faixa de abertura é totalmente calcada nesta abordagem, na qual instrumentos de verdade servem como moldura para efeitos eletrônicos, algo que já era quase obrigatório na primeira metade dos anos 1980, tanto em grupos Pós-Punks como The Cure ou Simple Minds, que faziam uma transição simpática rumo ao Pop mais solar (o primeiro) ou de estádio (o segundo), como em formações mais próximas dos subterrâneos, caso de Echo And The Bunnymen. Aqui, a coisa vai muito mais para as paradas de sucesso ou para os palcos dos festivais de Rock atuais, com o DNA oitentista evidenciado, como se fosse algo muito novo para a audiência. Convenhamos, quando você tem menos de 20 anos, uma banda como esta pode ser quase tudo em termos de proposta musical. How Good It Was equilibra mais o painel, com algumas guitarras mais evidentes, mas que servem como coadjuvantes de uma levada eficaz e bem urdida. Small Bones é a canção com introdução lenta e conteúdo existencial/contemplativa, que servem para acender o celular no show do estádio.

Has He Told You That He Loves You Yet é a canção com andamento que lembra bandas como Thompson Twins, com bateria aveludada, produção com pinta de pista de dança Rock revivalista, Black And Blue tem mais guitarras na introdução e andamento em alta velocidade e cara de frenesi dançante, cheia de vocais lúgubres. International é cheia de batidas eletrônicas e teclados apocalípticos, Next Time You Call tem mais andamento sintetizado, pianos, teclados e guitarras com saturação eletrônica, Saboteur é mais um exemplo da estética oitentista Pop totalmente revisitada, enquanto o encerramento com Dreamers (uma balada angelical) e Beautiful Head (algo que poderia estar em Listen Like Thieves, álbum de 1985, de INXS) cumprem a missão de levar o ouvinte até a segurança do lar.

A exceção a essa mesmice estética, como foi dito acima, é o primeiro hit do álbum, Summer. Trata-se de uma maravilha Pop contrabandeada dos melhores cânones noventistas das bandas de segunda divisão do Rock, algo que pode ser muito mais complexo do que parece. É melodia de sol na tarde do parque, com amigos, naquele clima de sol que surge após o inverno no Hemisfério Norte, trazendo a promessa de vida no coração de muita gente. Esta única canção é melhor que todas as outras presentes no álbum, traz um fio de esperança na direção da verve de Liam Fray e seus amigos. Mais que isso: resgata por pouco a tradição mancuniana de bandas sensacionais. Mais dez dessas num disco e The Courteeners pode conquistar o mundo.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.