Resenhas

The Flaming Lips – Oczy Mlody

Banda americana segue surpreendente e inovadora

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Ano: 2017
Selo: Warner
# Faixas: 12
Estilos: Rock Alternativo, Rock Psicodélico, Eletrônica
Duração: 56:52
Nota: 4.0
Produção: David Fridmann, Scott Booker e The Flaming Lips

Cá estamos nós no décimo-quinto álbum da carreira de The Flaming Lips. Oczy Mlody significa “os olhos dos jovens” em polonês, fruto de um livro que o líder da banda, Wayne Coyne, comprou num sebo para acompanhá-lo em viagens. Egresso de um divórcio – documentado largamente no último disco dos caras, The Terror (2014) – e da colaboração com a cantora Miley Cyrus – Coyne e sua turma pensaram numa nova direção para seu trabalho. A decisão foi misturar o clima mais recente, obscuro, estranho-mas-não-fofo, com a sempre bem vinda habilidade para criar melodias Pop próximas da perfeição, exibida principalmente nos dois trabalhos mais conhecidos de The Flaming Lips: The Soft Bulletin (1999) e Yoshimi Battles The Pink Robots (2002), quando acharam a dose exata para reinvenção e abraçar o mainstream, ainda que delicadamente, após quase dez anos militando no underground alternativo americano.

Claro, quando falamos em melodias Pop perfeitas, estamos falando de espécimes tortos, não-convencionais, mas, ainda assim, assoviáveis e com refrãos memorizáveis. Em Oczy, além desta inegável habilidade da banda estar totalmente inserida no contexto, talvez a novidade mais interessante seja a aproximação com gêneros musicais ainda jovens e e cheios de amor pra dar: Trip Hop e Hip Hop, sem falar no uso extensivo da Eletrônica, materializada em efeitos, teclados com timbres surpreendentes e levadas malandras, capazes de dar alguma aura dinâmica nas canções, que mesmo inovadoras e oblíquas (no melhor sentido do termo), nunca foram “dançáveis”, com muitas aspas. Na verdade, talvez esse não seja o termo mais indicado para algumas composições presentes aqui, mas, certamente, elas têm vida própria e diversidade de sobra para existirem fora do contexto do álbum, algo que costuma pegar pelo pé gente que pensa em grandes painéis sonoros.

Em meio a toda essa parafernália conceitual e novidades, sobra espaço para momentos dignos de destaque: A terceira faixa, There Should Be Unicorns, cujo título fala por si, tem uma levada hipnótica, com teclados fazendo as vezes de sinos, beats sutis conduzindo a melodia, vocais espirituais e uma voz que surge do nada, mais próxima ao fim da canção, encarnando uma espécie de Darth Vader, proferindo sandices sobre abrir mão das obrigações, ficar doidão e, a partir disso, a geração do amor seria reconduzida ao ápice. Logo em seguida, como quem não quer nada, vem a melhor e mais bela canção do álbum. Sunrise (The Eyes Of The Young) surge com uma linha melodia adorável, novamente vocais celestiais, mudanças de timbres e instrumentos sem aviso e versos como “the sun beams burn my child dreams”, mostrando que, por trás das alegorias e adereços de Wayne Coyne, há um sensível ser humano de 50 e poucos anos.

Há momentos bem eletrônicos e legais por aqui também: Nigdy Nie (Never No) é, basicamente, uma melodia executada ao teclado com vários timbres sem direção, batidas bacaninhas e pinta de Hip Hop instrumental. Do Glowy é mais experimental mas conjura também elementos mais convencionais, ainda que não seja nada Pop. Listening To The Frogs With Demon Eyes tem sapos de verdade gravados e faz jus ao imaginário da banda, seja na esquisitice, seja na capacidade com que ela torna tudo isso curtível e aceitável. A caminho do fim, The Castle é outra baita canção, trazendo a aura Pop perfeita e submetendo-a a batidas eletrônicas suaves mas oriundas da interseção trip-hopesca, resultando num curioso efeito luminoso. Almost Home é uma canção radioheadiana sem neuras e desinibida, preparando o terreno para o majestoso encerramento com We A Family, opulenta, grandiosa e cheia de beleza.

O maior mérito de uma banda como The Flaming Lips é de nunca ser o que o ouvinte espera dela. Coyne e amigos seguem seus instintos, confiam neles, sempre oferecem algo que os fãs vão admirar e entender. Tal generosidade é motivo de constante renovação e da maior característica que o grupo possui: é sempre atual e novo. Este disco comprova isso e nos faz esperar pelo próximo.

(Oczy Mlody em uma música: Sunshine (Eyes Of The Young))

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.