Resenhas

The Good, The Bad & The Queen – Merrie Land

Supergrupo retorna com álbum sobre a Inglaterra de hoje

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Ano: 2018
Selo: Studio 13
# Faixas: 11
Estilos: Rock Alternativo, Indie Rock
Duração: 37:12
Nota: 3.0
Produção: Tony Visconti

Os Estados Unidos têm Trump e o Reino Unido tem o Brexit. Ambos são eventos políticos marcantes no século 21 e acenam para decisões que vão de encontro ao aspecto de protagonistas que estes países detém em relação ao mundo. Ou acham que detém. O que importa, pelo menos para nós, é que ambos desencadearam uma série de reações no campo da produção cultural, especialmente documentários e muitos álbuns musicais, mostrando o quanto a intelectualidade destes países discorda desses movimentos e, em forma de subtexto, comprovando o quão tristemente esta classe parece estar distante da realidade que determina quem ocupa cargos públicos por lá.

The Good, The Bad & The Queen, o supergrupo de Damon Albarn, Simon Tong (The Verve), Tony Adams e Paul Simonon (The Clash), entrega, sob a produção do emblemático Tony Visconti, seu segundo álbum, Merrie Land. Eles vêm com a disposição de falar sobre o Brexit de duas formas: apontando para a aberração que parece a seus olhos e ouvidos a saída do Reino Unido da União Europeia e, ao mesmo tempo, evocando um país ideal, que pode estar no passado real ou idealizado. Explico: a ideia deles é ressaltar idiossincrasias britânicas, algo que o próprio Blur já fez no passado, talvez imitando The Kinks, sobre o quão bacana/bizarro pode ser o habitante deste arquipélago. E este mergulho na memória pode ser conduzido de modo a trazer lembranças de algo que não chegou a ocorrer de fato.

A música por aqui é interessante, mas não empolga. Há poucos momentos de real brilhantismo, mostrando que o quarteto pode ser um caso de pouco entrosamento de ótimos músicos. São semi-Rocks, semi-baladas, lembrando um disco pouco criativo do Blur, com a voz de Albarn liberando seu sotaque cockney, enquanto a bateria rufante de Allen aparece presente mas com pouco destaque. As composições são qualquer nota, bonitinhas, mas ordinárias e com pouco punch nos arranjos. Visconti parece pilotar o estúdio por procuração. Se a ideia é fazer um disco simples, não precisa que ele seja simplório, certo? Ele deve saber isso, ora bolas.

Ao longo dos 37 minutos e onze faixas, ficamos com gastura esperando por alguma canção que faça a diferença. Merrie Land e o single Gun To The Head dão certa esperança mas sucumbem diante do acabamento dos arranjos, sem qualquer graça. Três outras faixas melhoram um pouco as coisas: The Poison Tree, a última canção, é bonitinha e dramatiquinha, com bons teclados que evocam cordas e climas do futuro do pretérito. Ribbons, com voz, violão e arranjo, também é bonitinha, mas parece uma canção tocada num sarau do colégio da sua irmã mais nova. O grande momento do álbum, o único que guarda alguma invenção, é Lady Boston, que tem nos vocais de apoio seu grande charme, além de uma melodia bela e pungente. De resto é um punhado de oportunidades desperdiçadas.

A impressão que resta ao ouvinte, seguindo o próprio clima do álbum, é ter a impressão que ouviu um disco morno e mediano que o Blur nunca gravou. Resta a esperança de ver esses sujeitos pensando em soluções que façam essas canções crescerem ao vivo. Do contrário, sei não.

(Merrie Land em uma música: Lady Boston)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.